É impressionante a avidez da mídia de massa em dizer que a Rio+20 foi um fracasso, uma constatação imprecisa que desvia a atenção das reais raízes da questão: quem fracassou não foi a conferência, mas as lideranças globais de hoje, que não são suficientes para fazer com que os temas socioambientais do mundo causem qualquer modificação nas suas reais preocupações, que são as de refinar as maneiras pelas quais a economia seja a única merecedora de qualquer atenção e credibilidade.
E sorte deles que a Europa passa por uma crise econômica! Em 2001, na conferência de Joanesburgo (a Rio + 10), foi o terrorismo internacional que cumpriu esse papel. Lá a delegação norte-americana fez todos os esforços para banalizar "meio ambientes" e sociedades em nome de uma convergência global contra o terrorismo. Então parece que a medida se repetiu.
A avaliação do fracasso decorre também daqueles que desconsideram completamente os movimentos que ocorreram durante a Cúpula dos Povos, que reuniu, ela sim, povos (no plural) e suas agendas, receios e aspirações. Apesar das dificuldades provenientes desse pluralismo, ela (a Cúpula) não o negou. Pelo contrário, enfatizou. Trouxe tudo aquilo que a primeira deixou de fora, que agora (diferente da Eco-92), foram coisas demais.
Me pareceu (ah, estive lá, então falo a partir do que vi) que mais e mais os resultados das análises feitas convergem para uma constatação, a de que a democracia representativa há muito não é capaz de considerar o bem comum e nem de propiciar para os representados as concretizações de suas promessas. O espaço entre gente comum e tomadores de decisão ficou grande demais e nada mais explícito para comprovar isso do que o distanciamento entre a Cúpula dos Povos e o evento oficinal. As aspirações da primeira (felicidade, cuidado, diálogo, humanidade, biodiversidade, direitos, justiça e outros) não existem para a segunda! Diria ainda que os povos da primeira não existem para a segunda.
O evento oficial, este sim, simboliza o fracasso com tudo de mais perverso: para um modelo civilizatório definido no pós-segunda guerra que não cumpriu com suas promessas (basicamente a de que o crescimento econômico traria a redenção para todos), oferecem mais do mesmo: o crescimento econômico será a nossa redenção. Está ficando chato já, de tão simplória, senão embaraçoso, defender essa ideia, depois de 60 anos de experiência malograda.
Apoiados na ignorância generalizara, pela incapacidade de compreensão e, finalmente, pelas denúncias banalizadoras (quem vai querer se interessar por um assunto fracassado?), propõem que a economia deve ser defendida a qualquer custo e que não podemos nos dar ao luxo de pensar na questão ambiental.
Pergunto para o leitor: em algum momento da história tivemos nós aqui no Brasil ou teremos no mundo uma condição de bonança econômica? Não! As crises são fundamentais para que as medidas sacrificadoras de povos e ambientes sejam apoiadas por esses mesmos povos. Assim, ao invés de esperarmos para investir na questão ambiental quando tivermos uma condição que nunca, de fato, chegará, é preciso dar oxigênio à ideia de que devemos considerar as questões ambientais a despeito dessas crises, porque senão precisaremos, cada vez mais, de nos esforçar criativamente para inventarmos, a cada 10 anos, uma desculpa para não fazê-lo.
Como li lá durante uma passeata contra os retrocessos da legislação ambiental brasileira (a marcha a ré), quando os povos lideram, os líderes seguem!