quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sobre a Copa e o Código Florestal

Sob uma trave desproporcionalmente grande para um jogo justo coloca-se o goleiro, o meio ambiente brasileiro, já contundido por diversos tipos de entradas violentas por parte de seus opositores: queimadas, desmatamentos, poluição, contaminações etc.
Do "lado oposto do ringue", ajeitando sedento a bola na marca do penalti, a liderança (?) política brasileira responsável por, após tanto tempo, levar o campeonato para seu lado, qualquer que seja o custo para tal. A situação é extremamente tensa. Ao contrário de vezes anteriores, o meio ambiente brasileiro aparenta estar em situação de absoluta vulnerabilidade e, debaixo de traves ameaçadoras, não parece ser capaz de oferecer a segurança necessária.
O juiz apita. O relatório sobre as mudanças do Código Florestal começa a ser lido.
O correr do atacante, para estranhamento do público, demonstra algo de desajeitado, como se a tarefa tivesse sido estendida a alguém inapto. Não treinou? Não consultou especialistas no assunto? Achou que qualquer coisa valeria? Os outros jogadores do time, nesse momento de decisão em que podem ser expostos diante do público crítico, haviam desaparecido.
Para alívio da torcida pelo meio ambiente, o chute proferido se saiu tosco. Daqueles que, se narrado pelas vozes radiofônicas de Ribeirão Preto, seriam imediatamente seguidos do "jingle" separado especialmente para quando a bola se perde, desolada, no fundo do campo e por demais longe do objetivo: "Good bye my love!".
Apesar de longe dos olhos do grande público, mais preocupado com outra seleção, a "pernaiada" do atacante é observada de perto por alguns presentes na contenda, que não se privam de comentá-la (artigos publicados na folha e no estadão. Alguns não dão acesso livre mas podem ser encontrados em outros sítios: http://www.gabeira.com.br/noticias/temas/meio-ambiente/2379-parlamentar-comunista-vira-ideologo-da-bancada-ruralista; http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100608/not_imp563132,0.php; http://www.agronline.com.br/agronoticias/noticia.php?id=23650).

Por hora, o meio ambiente brasileiro ganha um fôlego. Mas não podemos nos enganar. Serão várias cobranças. Como se o juiz fosse o melhor amigo do cobrador, a sensação é que serão tantas quantas necessárias ao convertimento. O próximo chute já está marcado. Ilustrando bem a péssima intenção do dono da bola, das traves e do campo todo, na próxima terça-feira, coincidentemente dia em que os torcedores estarão ligados em um outro jogo. Não percam.

Passado o primeiro chute, a reflexão que fica é de como somos vulneráveis neste país. Além do terror causado pela violência do correntão (forma usada para a derrubada de florestas, em que se prende uma corrente em dois tratores que passam impiedosamente sobre a mata), que avança violentamente a "fronteira agrícola" sobre qualquer direito ao "meio ambiente ecológicamente equilibrado", como reza a nossa Carta Magna, fica uma outra impressão, por enquanto, mais difícil de compreender: como é que um relatório pobre, mesquinho, raso, cheio de incoerências, pessimamente informado e juvenil como esse pode acarretar tamanha reviravolta, se propondo como alternativa a um conjunto legal de mais de trinta anos?

No momento, fisioterapeutas, médicos, massagistas e outros estão em campo na tentativa de revitalizar um pouco mais o nosso goleiro. E que venha terça-feira.

domingo, 6 de junho de 2010

Dia mundial do meio ambiente

Hoje é dia mundial do meio ambiente e, aqui no Brasil, pode ser o último da legislação ambiental conforme a conhecemos.
Já foi exaustivamente publicada neste espaço e também em vários outros a iniciativa capitaneada por Aldo Rebelo para retalhar um conjunto de leis de tentam dar suporte jurídico para a proteção ambiental no Brasil. O resultado disso (o relatório da Comissão Mista) deve sair nos próximos dias.
O Brasileiro deve devotar uma atenção a esse documento, seus pressupostos e suas propostas. Deve também se perguntar criticamente, o que estará por trás (e, por que não, quem estará por trás) do discurso benévolo do político (benévolo porque direcionado ao "pobre pequeno produtor"). Quem será realmente beneficiado por suas propostas, a iniciativa privada ou o bem público? O brasileiro, de hoje e de amanhã?
Por fim, deve contextualizar todo esse movimento da bancada ruralista lembrando-se que quem faz a proposta faz parte daquela que não é a mais confiável parcela de brasileiros: a classe política, campeã do dinheiro na cueca, do superfaturamento, do mensalão e outras manobras.
A partir do desdém, do medo e das alterações que fizeram no projeto da ficha limpa para torná-lo o mais próximo possível de algo que não muda o que já existe, em desrespeito a pelo menos um milhão e seiscentas mil assinaturas de brasileiros preocupados com a ocupação das instâncias políticas nacionais por bandidos profissionais, podemos deduzir que o que menos está em pauta aqui é o bem estar do brasileiro ou mesmo dos produtores rurais do Brasil. Há uma outra lógica por trás, já por nós conhecida mas que mesmo assim não é capaz de constrangê-los: o toma lá dá cá mesquinho e no mínimo irresponsável praticado a céu aberto. E a moeda DA VEZ é o meio ambiente. Não se sabe qual será a moeda da próxima vez.
O problema é que o estrago a ser proposto será irreversível. Como comumente dizemos no universo da biologia, extinção é para sempre. No dia mundial do meio ambiente, vamos nos colocar publicamente para que não vivenciemos em um futuro próximo a extinção da nossa legislação ambiental.