terça-feira, 24 de março de 2009

Por uma nova civilização

Enquanto novidades sobre a Conferência não são postadas aqui, decidi incluir mais um arquivo que dá continuidade às minhas reflexações.

As reflexões para este espaço partem de dois princípios básicos, aparentemente separados, que serão explicados a seguir:

1) a crise que experimentamos não é uma crise ambiental mas civilizatória e;

2) Vivemos em uma realidade complexa.

1) A crise que experimentamos não é uma crise ambiental mas civilizatória:
Fala-se muito mais hoje sobre questões ambientais do que se falava há vinte anos. Para ser mais preciso, a ampla cobertura pela mídia dos conflitos, dos impactos e das consequências desses impactos ambientais começou a se dar de forma mais intensa a partir da Eco-92, realizada no Rio de Janeiro. Antes dela, dificilmente assistiríamos a um programa sobre natureza na televisão, leríamos um artigo no jornal ou vestiríamos uma camiseta com tartarugas marinhas. A Conferência, apesar de recheada de resultados duvidosos, certamente serviu para popularizar a questão ambiental, ajudada pelo desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação. De lá prá cá, então, meio ambiente passou, paulatinamente, a fazer parte das nossas vidas: mais programas na TV e destaques nas rádios, atenção pela mídia impressa, nascimento de páginas na Internet, inserção do tema em novelas, etc., e isso tudo colaborou com o aumento da massa crítica global acerca do tema. Inicia-se aí a jornada pela resolução de problemas ambientais.
Mas não é preciso um olhar muito atento para se verificar que os problemas que nos afetam hoje não são de exclusividade ambiental. A miséria, a concentração de renda, a violência e a sensação de insegurança, as doenças da modernidade (síndrome do pânico, depressão, obesidade), a insalubridade das cidades, além de outras, são sintomas de que os desafios à frente transcendem meramente a "questão ambiental" e vão mais a fundo: a crise que vivemos é civilizatória. Ou seja, os princípios sobre os quais a nossa sociedade - industrial moderna de consumo de massa - foi construída, e que movem nossas vidas, são insustentáveis e causadores das questões colocadas acima: para que sejamos bem sucedidos necessitamos explorar a natureza, as pessoas e a nós mesmos, e os resultados disso são conhecidos por todos.

2) Vivemos uma realidade complexa:
A complexidade da realidade está ligada ao fato de existirmos em um mundo formado por sistemas e subsistemas, que não pode ser retalhado e nem simplificado. Isso implica na intrínseca ligação entre os constituintes do sistema e não permite, portanto, separação.
O paradigma da separação/fragmentação é um resultado da formatação do pensamento científico moderno a partir da Revolução Científica, e apesar de ter permitido uma série de avanços tecnológicos, trouxe consigo consequências com as quais não conseguimos lidar, simplesmente por insistirmos nas soluções fragmentadas para problemas complexos. O descompromisso com o qual lidamos com o nosso corpo, com a sociedade e com a natureza só pode partir do pensamento de que o que ocorre com o outro lá (que é inclusive o meu corpo) não tem nada a ver comigo aqui.
Há uma corrente de pensamento que considera que estamos iniciando uma nova revolução científica, baseada nos princípios complexos de pensamento. Ao reconhecermos as ligações entre as coisas e suas interdependências, nossos valores fundamentais necessariamente mudarão e, portanto, nossas ações. Estaremos, aí, construindo uma nova civilização.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Conferência da Unesco sobre Educação para o Desenvolvimento Sustentável

A partir de agora discutirei algumas questões relativas à Conferência da Unesco sobre Educação para o Desenvolvimento Sustentável que se dará em Bonn, na Alemanha, entre os dias 30 de março e 02 de abril deste ano. Fui selecionado para participar, com mais 24 outros jovens entre 18 e 35 anos, da oficina que antecede a Conferência, chamada de Vozes Jovens da Educação para o Desenvolvimento Sustentável.
A Conferência e a oficina têm como objetivo fazer uma avaliação da década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável que está em curso desde 2005 e propor sugestões para a sua segunda metade. Para tal os 25 participantes foram selecionados em 4 diferentes grupos para promoverem discussões virtuais sobre temas pré-definidos e, ao final, comporem um texto que trará a sua contribuição para a conferência. Até o encerramento da oficina, um texto compilando as questões dos 4 grupos será formatado, para então ser apresentado na abertura da Conferência. O grupo em que estou inserido está discutindo a construção de parcerias para a educação para o desenvolvimento sustentável. As discussões se dão virtualmente por meio de uma plataforma que foi construída especificamente para tal e postarei aqui aqueles trechos que eu julgar pertinentes sobre as minhas colocações nas discussões. Abaixo vão alguns deles que eu postei hoje:

"Eu considero que qualquer forma de parceria deve ter necessariamente como meta a construção do empodeiramento, da emancipação, da autonomia e do respeito à auto-determinação local. Nós devemos considerar que a unidade humana é na verdade multipla em suas culturas, valores e crenças e que essa percepção deve estar subjacente à qualquer forma de ação. Essa é a principal troca que pode ser alcançada nessa construção de parcerias. Como já foi colocado, há várias experiencias que podem ser compartilhadas e muito a ser aprendido, principalmente de "baixo para cima" e "entre os de baixo", e portanto o desenvolvimento da educação para o desenvolvimento sustentável deveria fortalecer o contato entre localidades".

"Eu considero que nós temos que nos perguntar quais são os valores subjacentes predominantes que nós promovemos. Estamos nós realmente lidando com os problemas na raiz ou com seus sintomas, enquanto os problemas se tornam mais e mais emaranhados e difíceis de se resolver? É importante que avaliemos as contradições dentro da própria idéia de desenvolvimento sustentável enquanto educamos as pessoas para ele, pois as contradições permitem que as velhas ideologias se transvistam e se pareçam com novas ideologias. Claramente nós não estamos vivendo em um paradigma diferente e isso pode ser facilmente percebido na diferença de agilidade de governos e agências para lidar com a crise financeira global (e a quantidade de dinheiro mobilizado) e para lidar com assuntos relativos à sustentabilidade (como as mudanças climáticas e outros). A vida na Terra é menos sustentável hoje do que ela era dez anos atrás e ainda parece que o tema sustentabilidade é percebido como algo para ser lidado quando a economia está bem. Portanto, os discursos de sustentabilidade precisam ser mais incisivos e seus princípios mais presentes e terem maior influência sobre decisões financeiras e econômicas."