Um dos temas discutidos pelo grupo Vozes Jovens da Educação para o Desenvolvimento Sustentável foi o de construção de parcerias internacionais para a difusão da educação. Na verdade, o tema foi específico de um de seus sub-grupos e foi iniciado com a leitura de alguns trechos de documentos preparatórios para a Conferência Mundial de Educação para o Desenvolvimento Sustentável, realizada em Bonn, na Alemanha, em Abril de 2009.
Durante as discussões virtuais, que envolveram a mim, do Brasil, uma participante da Suíça e participantes da Nova Zelândia, Quênia, Yemen e Zimbabue, um dos aspectos que me chamou a atençã0 foi o fato da documentação oficial estimular a construção de parcerias principalmente entre o "Norte-Sul-Sul" e entre o "Sul-Sul". E as parcerias entre "Norte e Norte?", pensei eu.
Os países do norte não têm nada a aprender entre eles?
Essas questões retomam o último artigo publicado aqui no Reflexações Ambientais que discute a Sustentabilidade de Cabeça para Baixo: embora exista atualmente um reconhecimento, ainda que tímido, dos padrões de consumo do Norte (e das "porções Norte" dentro do Sul) como a principal causa de insustentabilidade do planeta, a documentação oficial sobre programas de educação para o desenvolvimento sustentável mantém o foco no Sul!!!
Para os países do Norte (e também para a porção mais ocidentalizada dos países do Sul), lidar com a insustentabilidade dos padrões de produção vai significar também lidar com algo inerente muito mais sutil e pervasivo nessas sociedades: a cultura de consumo.
Isso significa que a busca pela sustentabilidade vai ter que assumir a questão do combate à cultura de consumo e, nesse ponto, espera-se que países do Norte possam estabelecer parcerias e compartilhar informações, tecnologias e estratégias sobre como estão lidando efetivamente com o assunto. Ou isso, ou continuarão a desviar as atenções das causas da insustentabilidade para o sul, e os problemas não serão resolvidos.
A abordagem sugerida nos documentos oficiais lembra um pouco o paradigma antigo da transferência de tecnologia, informação e recursos para os países do Sul e legitima a idéia de que, fundamentalmente nas questões de educação e sustentabilidade, quem precisa aprender é o Sul.
Espaço inspirado pela "práxis" Paulofreireana em que ação e reflexão são constituintes indissociáveis no processo de ser no mundo.
Páginas do Reflexações
terça-feira, 28 de abril de 2009
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Virando a sustentabilidade de cabeça para baixo
Um dos aspectos muito presentes nas discussões acerca de sustentabilidade ocorridas durante a Conferência Mundial da Unesco sobre Educação para o Desenvolvimento Sustentável é a questão do combate à pobreza extrema. De fato essa meta, primeira das metas do milênio, carrega consigo a idéia de que a existência da pobreza extrema é um obstáculo para a sustentabilidade. Por mais verdadeira que possa ser, considero que a questão deve ser vista de forma mais crítica do que acontece normalmente. Explico:
O foco dos debates no combate à pobreza, primeiro de tudo, mantém a percepção de que os principais entraves à sustentabilidade estão nos países do hemisfério sul, enquanto que é notoriamente sabido e reconhecido, inclusive pelos representantes dos países "do norte", que isso não é possível, já que estes últimos são, de fato, os grandes consumidores da natureza. Mesmo assim, os olhares e o foco das discussões, apesar de todos os problemas a serem enfrentados no norte, se mantém no sul: mexe-se com um lado do problema enquanto que o outro continua como está. O sul continua com a culpa. E aí a lógica é a mesma: o norte precisa transferir tecnologias e informação e etc. para o sul....
Em segundo lugar, este enfoque mantém também uma percepção de que a pobreza (do sul ou de qualquer lugar) é um fenômeno auto-criado e independente e que portanto a atuação deva se dar "lá" no sul. A pergunta que se levanta então (e que eu expus abertamente nas minhas participações no grupo das "Vozes Jovens" e nos workshops sobre consumo sustentável e formação de professores) é a seguinte: a pobreza extrema não é uma criação da riqueza extrema? Os dois não são intrínsecamente relacionados de forma que quando se cria a segunda automaticamente se cria a primeira ? Desse modo, o combate à pobreza extrema não deveria se dar por meio do combate à riqueza extrema? Não deveria ser o combate à riqueza extrema, ao invés da pobreza extrema, então, a meta do milênio? Não estaríamos nós discutindo a sustentabilidade de cabeça para baixo?
Considero essa posição importante por várias razões: a primeira delas, mais óbvia, de finalmente discutirmos as raízes da pobreza e, ao localizarmos suas origens, de fato podermos atuar para resolver o problema, e não só para atuar; a segunda delas, porque o enfoque na pobreza extrema mantém a riqueza extrema como o horizonte de sucesso para os jovens do mundo, sendo justamente o excesso de consumo o motor da insustentabilidade. Portanto, o enfoque mais aberto no combate à riqueza colaboraria para a sustentabilidade também por trazer uma nova mensagem, a de que a sua busca não deva ser perseguida. Isso tudo parece óbvio, mas mudaria por completo as motivações de vida da grande maioria dos habitantes do planeta. O que vocês acham?
O foco dos debates no combate à pobreza, primeiro de tudo, mantém a percepção de que os principais entraves à sustentabilidade estão nos países do hemisfério sul, enquanto que é notoriamente sabido e reconhecido, inclusive pelos representantes dos países "do norte", que isso não é possível, já que estes últimos são, de fato, os grandes consumidores da natureza. Mesmo assim, os olhares e o foco das discussões, apesar de todos os problemas a serem enfrentados no norte, se mantém no sul: mexe-se com um lado do problema enquanto que o outro continua como está. O sul continua com a culpa. E aí a lógica é a mesma: o norte precisa transferir tecnologias e informação e etc. para o sul....
Em segundo lugar, este enfoque mantém também uma percepção de que a pobreza (do sul ou de qualquer lugar) é um fenômeno auto-criado e independente e que portanto a atuação deva se dar "lá" no sul. A pergunta que se levanta então (e que eu expus abertamente nas minhas participações no grupo das "Vozes Jovens" e nos workshops sobre consumo sustentável e formação de professores) é a seguinte: a pobreza extrema não é uma criação da riqueza extrema? Os dois não são intrínsecamente relacionados de forma que quando se cria a segunda automaticamente se cria a primeira ? Desse modo, o combate à pobreza extrema não deveria se dar por meio do combate à riqueza extrema? Não deveria ser o combate à riqueza extrema, ao invés da pobreza extrema, então, a meta do milênio? Não estaríamos nós discutindo a sustentabilidade de cabeça para baixo?
Considero essa posição importante por várias razões: a primeira delas, mais óbvia, de finalmente discutirmos as raízes da pobreza e, ao localizarmos suas origens, de fato podermos atuar para resolver o problema, e não só para atuar; a segunda delas, porque o enfoque na pobreza extrema mantém a riqueza extrema como o horizonte de sucesso para os jovens do mundo, sendo justamente o excesso de consumo o motor da insustentabilidade. Portanto, o enfoque mais aberto no combate à riqueza colaboraria para a sustentabilidade também por trazer uma nova mensagem, a de que a sua busca não deva ser perseguida. Isso tudo parece óbvio, mas mudaria por completo as motivações de vida da grande maioria dos habitantes do planeta. O que vocês acham?
domingo, 5 de abril de 2009
O direito de ter direitos e o dever de lutar por eles
Uma atividade central na discussão das questões ambientais atuais é o desafio da idéia hegemônica de desenvolvimento.
Em aulas, constumo promover este tipo de discussão e gostaria de compartilhar com os leitores as minhas percepções sobre os resultados da última prática que desenvolvi com alunos.
Na ocasião os alunos foram divididos em grupos e solicitados para que listassem ao menos cinco características de um país desenvolvido. Ao final, os grupos adicionariam seus resultados à lousa e uma discussão aberta seria promovida.
Bem, acredito que o que foi encontrado como resultado desta atividade pode ser levado para o país como um todo, pois faz parte do senso comum que forma a subjetividade do "brasileiro".
Assim, algumas das características levantadas e que atribuem a um país a condição de desenvolvimento é que o país deve ser capaz de oferecer aos seus cidadãos segurança, educação, saúde, acesso à renda, boa infra-estrutura, etc. Além disso, emergiram também os aspectos relacionados à capacidade produtiva, à inovação de tecnologias e outras.
Ao final, foi percebido um aspecto comum relacionado a todas as questões levantadas: todas estavam relacionadas aos direitos dos cidadãos.
O que foi surpreendente no processo foi que em momento algum foi citado que um país desenvolvido é também aquele onde os cidadãos têm deveres e responsabilidades. Assim, pôde-se perceber uma espécie de passividade na idéia de desenvolvimento: as boas condições de vida e de produção serão, um dia, oferecidas para nós que, por enquanto, ficamos esperando por elas.
E qual seria nosso dever principal? Acredito que a liga entre direitos e deveres se dá por meio da capacidade de reivindicação. Ou seja, de nada vale um direito garantido no papel se não é traduzido em ação prática e isso não ocorrerá a não ser que a população julgue que reivindicar esse direito seja um dever. Será que em países "desenvolvidos" as pessoas não são mais ativas na reivindicação os seus direitos e como consequência a elas são ofertadas melhores condições de vida? Uma reflexação que deixo para aqueles que visam o desenvolvimento do país.
ps: O título deste artigo foi inspirado pelo subtítulo da Revista O III Berro: o direito de ter direitos e nossa obrigação de lutar por eles.
Em aulas, constumo promover este tipo de discussão e gostaria de compartilhar com os leitores as minhas percepções sobre os resultados da última prática que desenvolvi com alunos.
Na ocasião os alunos foram divididos em grupos e solicitados para que listassem ao menos cinco características de um país desenvolvido. Ao final, os grupos adicionariam seus resultados à lousa e uma discussão aberta seria promovida.
Bem, acredito que o que foi encontrado como resultado desta atividade pode ser levado para o país como um todo, pois faz parte do senso comum que forma a subjetividade do "brasileiro".
Assim, algumas das características levantadas e que atribuem a um país a condição de desenvolvimento é que o país deve ser capaz de oferecer aos seus cidadãos segurança, educação, saúde, acesso à renda, boa infra-estrutura, etc. Além disso, emergiram também os aspectos relacionados à capacidade produtiva, à inovação de tecnologias e outras.
Ao final, foi percebido um aspecto comum relacionado a todas as questões levantadas: todas estavam relacionadas aos direitos dos cidadãos.
O que foi surpreendente no processo foi que em momento algum foi citado que um país desenvolvido é também aquele onde os cidadãos têm deveres e responsabilidades. Assim, pôde-se perceber uma espécie de passividade na idéia de desenvolvimento: as boas condições de vida e de produção serão, um dia, oferecidas para nós que, por enquanto, ficamos esperando por elas.
E qual seria nosso dever principal? Acredito que a liga entre direitos e deveres se dá por meio da capacidade de reivindicação. Ou seja, de nada vale um direito garantido no papel se não é traduzido em ação prática e isso não ocorrerá a não ser que a população julgue que reivindicar esse direito seja um dever. Será que em países "desenvolvidos" as pessoas não são mais ativas na reivindicação os seus direitos e como consequência a elas são ofertadas melhores condições de vida? Uma reflexação que deixo para aqueles que visam o desenvolvimento do país.
ps: O título deste artigo foi inspirado pelo subtítulo da Revista O III Berro: o direito de ter direitos e nossa obrigação de lutar por eles.
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