domingo, 5 de abril de 2009

O direito de ter direitos e o dever de lutar por eles

Uma atividade central na discussão das questões ambientais atuais é o desafio da idéia hegemônica de desenvolvimento.
Em aulas, constumo promover este tipo de discussão e gostaria de compartilhar com os leitores as minhas percepções sobre os resultados da última prática que desenvolvi com alunos.
Na ocasião os alunos foram divididos em grupos e solicitados para que listassem ao menos cinco características de um país desenvolvido. Ao final, os grupos adicionariam seus resultados à lousa e uma discussão aberta seria promovida.
Bem, acredito que o que foi encontrado como resultado desta atividade pode ser levado para o país como um todo, pois faz parte do senso comum que forma a subjetividade do "brasileiro".
Assim, algumas das características levantadas e que atribuem a um país a condição de desenvolvimento é que o país deve ser capaz de oferecer aos seus cidadãos segurança, educação, saúde, acesso à renda, boa infra-estrutura, etc. Além disso, emergiram também os aspectos relacionados à capacidade produtiva, à inovação de tecnologias e outras.
Ao final, foi percebido um aspecto comum relacionado a todas as questões levantadas: todas estavam relacionadas aos direitos dos cidadãos.
O que foi surpreendente no processo foi que em momento algum foi citado que um país desenvolvido é também aquele onde os cidadãos têm deveres e responsabilidades. Assim, pôde-se perceber uma espécie de passividade na idéia de desenvolvimento: as boas condições de vida e de produção serão, um dia, oferecidas para nós que, por enquanto, ficamos esperando por elas.
E qual seria nosso dever principal? Acredito que a liga entre direitos e deveres se dá por meio da capacidade de reivindicação. Ou seja, de nada vale um direito garantido no papel se não é traduzido em ação prática e isso não ocorrerá a não ser que a população julgue que reivindicar esse direito seja um dever. Será que em países "desenvolvidos" as pessoas não são mais ativas na reivindicação os seus direitos e como consequência a elas são ofertadas melhores condições de vida? Uma reflexação que deixo para aqueles que visam o desenvolvimento do país.

ps: O título deste artigo foi inspirado pelo subtítulo da Revista O III Berro: o direito de ter direitos e nossa obrigação de lutar por eles.

3 comentários:

Caio Santiago disse...

Professor,
Legal você ter criado o blog. Tá aí uma oportunidade de manter o contato com o lado argumentativo das aulas, mesmo após ter deixado a faculdade.
Abraços
Caio

Edna Costa disse...

Daniel, dizem (não sei se é verdade, mas parece que sim) que o comodismo faz parte da nossa cultura, por isso mesmo somos um povo de certa forma pacífico, ou seja, como nunca ninguém exige nada, briga por nada, nem pelos seus direitos, uma guerra por aqui não daria certo.

Por outro lado, existe o conformismo, talvez herança de anos de ditadura militar relativamente recente, onde se acredita que nada do que for feito para mudar algo - nem que seja exigir seus direitos - dará certo, ou um desânimo total.

Um exemplo prático: o Carnabeirão. Aqui na minha casa são três noites às claras para suportar a diversão alheia. Nada contra o evento, que poderia ser realizado em outro local menos perturbador do silêncio e descanso, nosso direito garantido por lei que não é respeitado. Foi-me sugerido abrir boletim de ocorrência ou algo semelhante, mas fui a primeira a desistir da idéia diante de algo que supostamente não daria certo.

Enfim, senti na pele e nos olhos cansados do dia seguinte, o que é ter os direitos e não lutar por eles.

beijinhos

Débora Menezes disse...

Blog novo, boa sorte! Mantenha contato para trocar figurinhas com o pessoal de Campinas. Abs