segunda-feira, 8 de junho de 2009

Desenvolvimento - Parte 2

Desconsiderando-se a questão geográfica do nascimento, quais são os fatores de uma nação que atribuem identidade a seus cidadãos? O que nos diferencia, como brasileiros, dos japoneses ou kenianos?
A identidade de um povo é determinada por diversos e complexos aspectos inerentes a sua origem e história e é expressa, entre outros, por meio da arte, música, danças, estética, culinária, cerimôniais, da língua e sua espiritualidade. Tudo isso, em suma, demonstra o conjunto de valores predominantes em um determinado local.
Assim, brasileiros, japoneses e kenianos, além de terem nascido em lugares diferentes, possuem diferentes origens e histórias e isso se traduz na diversidade cultural encontrada entre eles.
Imaginem então que, a partir de 1949, com nascente ideologia do desenvolvimento (vide Desenvolvimento - Parte 1, abaixo), todos esses e outros aspectos identitários de uma nação deixam de ter valor primordial e passam a uma condição secundária e inferior ao projeto de "desenvolvimento" mundial, pautado e medido simplesmente por meio indicadores econômicos em que, em última análise, aquilo que não produz renda não é mais relevante.
Assim, a corrida pela "modernização" faria com que, de tudo o que participava da formação da identidade de um povo, apenas aqueles aspectos capazes de serem transformados em produtos fossem mantidos. Os demais passariam a ser associados à condição de "primitividade", da qual os países agora deveriam se livrar para se "modernizar". Inicia-se, no mundo, uma busca por ocidentalização, ou seja, por aquelas características que agora identificariam o país como "desenvolvido", e uma espécie de envergonhamento por tudo aquilo que não seja ligado à cultura de consumo: paulatinamente, a própria identidade dos povos passam a significar atraso e a resposta para isso, óbvia, é o consumo da cultura dos "avançados".
Assim, o caipira dá lugar ao 'cawboy' e a liquidação à 'sale', sem perceber que a dependência cultural é a ferida por onde a dependência econômica se instala.
Quais outras consequências do processo de transformação do mundo em uma arena econômica? Dê sua opinião.

2 comentários:

Bruno Pinheiro disse...

Hey Daniel!
Ótima reflexão...
Enquanto aqui se avança sobre as tradições sem respeito algum á história (pelo contrário, com base no fomento às descontinuidades históricas), os chineses impedem até hoje a entrada massiva da indústria cultural norte-americama em seu país, sobretudo os filmes hollywodianos.
É aquel história das faces da globalização. Pode fortalecer as diversidades ou pode atropelá-la dependendo dos interesses a que servem. Abção, paz e bem!

Guilherme Zufelato disse...

Fala Daniel..
Cara, antes mesmo de terminar esse texto "Desen...Parte 2", pensei exatamente na 'reinterpretação' (ou recriação/reinvenção/transformação), do caipira em 'country', justamente pelo meu tema de monografia, da graduação, e agora da pós, tratar disso. E antes mesmo do final do seu texto, você deu este exemplo, do caipira, daí resolvi comentar. E é exatamente isso, na busca de "modernizar-se" é que se buscou esquecer do caipira, de sua cultura, tradições, hábitos, enfim, de tudo que era ligado a ele, pois o chamado caipira remete a uma ideia como que "atrasado", e a "modernidade" recria-o enquanto country, portanto modernizado, com roupas etilizadas etc. O passado vira pó 'nas mãos' da era moderna, que perde a memória e as raízes de por onde adveio, e não apenas por isso, pois a "modernidade" perde as raízes da própria "modernidade". É uma eterna busca de construir, erguer-se, sobre os escombros daquilo que era até então, seja cultura, tradição, etc. Talvez, muito por isso, foi que surgiram as doenças "modernas" (transtornos os mais bizarros, sindromes etc), pois retirou-se das pessoas o que até então dava o sentido da vida, a identidade, e não se deu nem ofereceu nada para o mesmo lugar. O vazio interno e externo instalou-se, nas pessoas e onde estas viviam. Outro ponto que você falou no texto e que basicamente constitui-se enquanto característica típica moderna, é a questão da possibilidade de se vender cultura, que é, justamente, por onde se instala a "dependencia econômica", como vc disse. O country, digamos, enquanto uma variável modernizada do velho caipira, é assim mesmo vendido, enquanto cultura, o que seria melhor dizer não uma tradição original vista e observada, por isso comprada, mas sim uma subcultura inventada pela "modernidade" para o mercado, como ocorre no chamado Turismo Cultural. Muito bom o texto, parabens!
Abraço.