Enquanto novidades sobre a Conferência não são postadas aqui, decidi incluir mais um arquivo que dá continuidade às minhas reflexações.
As reflexões para este espaço partem de dois princípios básicos, aparentemente separados, que serão explicados a seguir:
1) a crise que experimentamos não é uma crise ambiental mas civilizatória e;
2) Vivemos em uma realidade complexa.
1) A crise que experimentamos não é uma crise ambiental mas civilizatória:
Fala-se muito mais hoje sobre questões ambientais do que se falava há vinte anos. Para ser mais preciso, a ampla cobertura pela mídia dos conflitos, dos impactos e das consequências desses impactos ambientais começou a se dar de forma mais intensa a partir da Eco-92, realizada no Rio de Janeiro. Antes dela, dificilmente assistiríamos a um programa sobre natureza na televisão, leríamos um artigo no jornal ou vestiríamos uma camiseta com tartarugas marinhas. A Conferência, apesar de recheada de resultados duvidosos, certamente serviu para popularizar a questão ambiental, ajudada pelo desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação. De lá prá cá, então, meio ambiente passou, paulatinamente, a fazer parte das nossas vidas: mais programas na TV e destaques nas rádios, atenção pela mídia impressa, nascimento de páginas na Internet, inserção do tema em novelas, etc., e isso tudo colaborou com o aumento da massa crítica global acerca do tema. Inicia-se aí a jornada pela resolução de problemas ambientais.
Mas não é preciso um olhar muito atento para se verificar que os problemas que nos afetam hoje não são de exclusividade ambiental. A miséria, a concentração de renda, a violência e a sensação de insegurança, as doenças da modernidade (síndrome do pânico, depressão, obesidade), a insalubridade das cidades, além de outras, são sintomas de que os desafios à frente transcendem meramente a "questão ambiental" e vão mais a fundo: a crise que vivemos é civilizatória. Ou seja, os princípios sobre os quais a nossa sociedade - industrial moderna de consumo de massa - foi construída, e que movem nossas vidas, são insustentáveis e causadores das questões colocadas acima: para que sejamos bem sucedidos necessitamos explorar a natureza, as pessoas e a nós mesmos, e os resultados disso são conhecidos por todos.
2) Vivemos uma realidade complexa:
A complexidade da realidade está ligada ao fato de existirmos em um mundo formado por sistemas e subsistemas, que não pode ser retalhado e nem simplificado. Isso implica na intrínseca ligação entre os constituintes do sistema e não permite, portanto, separação.
O paradigma da separação/fragmentação é um resultado da formatação do pensamento científico moderno a partir da Revolução Científica, e apesar de ter permitido uma série de avanços tecnológicos, trouxe consigo consequências com as quais não conseguimos lidar, simplesmente por insistirmos nas soluções fragmentadas para problemas complexos. O descompromisso com o qual lidamos com o nosso corpo, com a sociedade e com a natureza só pode partir do pensamento de que o que ocorre com o outro lá (que é inclusive o meu corpo) não tem nada a ver comigo aqui.
Há uma corrente de pensamento que considera que estamos iniciando uma nova revolução científica, baseada nos princípios complexos de pensamento. Ao reconhecermos as ligações entre as coisas e suas interdependências, nossos valores fundamentais necessariamente mudarão e, portanto, nossas ações. Estaremos, aí, construindo uma nova civilização.
4 comentários:
"Quem planta flores, planta beleza e perfumes para alguns dias. Quem planta árvores, planta sombra e frutos por anos, talvez séculos.
Mas quem planta idéias verdadeiras, planta para a eternidade."
se conseguirmos convencer a todos de que todos são causadores de todos os problemas apontados por todos,sem exceçao, pela simples existência, talvez consigamos diminuir a quantidade de "todos" em todos os lugares do planeta onde essa
existência deve ser de toda repensada e planejada!Por que deixamos tantos nascer mesmo sabendo que o espaço não dá, a comida não dá, o dinheiro não dá, nem educação dá, portanto, todos devemos planejar o crecimento desordenado e desenfreado.
A questão ambiental tem sido, nos últimos anos, algo incômodo, uma vez que para no âmbito planetário todos resolveram se preocupar com as condições em que se encontram os recursos naturais. Ressinto-me profundamente de não ter condições de avançar para além de uma visão maniqueísta, e pouco fértil, ou mesmo, pobre sobre a temática ambiental. Embora as atenções estejam voltadas para uma “suposta” crise (e o capitalismo não vive de fato uma crise, pois está de fato se livrando de algumas gorduras para ficar em forma) que se avizinha, não temos visto discussões entre os governantes dos Estados Nacionais (evidentemente se esquecermos a perspectiva de entendimento do Estado sob o olhar leninista ou mesmo nas revisões feitas por Poulantzas ou Offe) em que o objetivo do mesmos seja o de recuar no que diz respeito ao crescimento econômico.
Como afirmou Virilio, esta sociedade representada de forma “inequívoca” por seus Estados (“democráticos e soberanos” ou não) não aventou a possibilidade de criar máquinas para “desacelerar”, ao contrário, é cada vez mais hábil para subverter tempo e espaço nos aprisionando e ao planeta a um ritmo insustentável de inovações e progresso que prometem um futuro melhor para todos.
Muitas vezes, de forma cínica, é bem certo, acreditamos que um progresso técnico cada vez maior ou a emancipação (autonomia) do pensar popular serão as soluções para todos os males que assolam a sociedade. O senso comum e mesmo o conhecimento acadêmico-científico, após o anúncio do “fim da história” insistem em afirmar que este modelo de sociedade é viável, desde que com o esforço e consciência da população seja possível reverter este quadro, ou será jogo. Mais alarmante ainda é observar que muitos acreditam que a reversão seja algo tangível, exatamente no interior deste modelo de sociedade que se escolheu (ou não!).
Penso que as discussões sobre a “questão ambiental” serão sempre superficiais, pois a questão de fundo, que é o modelo sócio/econômico/cultural — que não se escolheu — sempre se reinventa, inclusive de modo institucional – em suas várias formas – para ocultar-se e permanecer intacto. Sinto pelo pessimismo, mas entendo que apesar dos números das estatísticas planetárias indicarem que de fato tem ocorrido uma melhoria dos padrões de vida de todos, no planeta, “inclusive dos miseráveis”, estamos sendo conduzidos a acreditar que este modelo seja viável.
Estamos sendo conduzidos, de forma cada vez mais intensa, a apostar (e a roleta continua a girar) nas idéias de que os créditos de carbono, as legislações ambientais, os painéis de discussões climáticas e econômicas que envolvem a todos são a promessa de redenção dos males do capital, embora estas sejam secundários (ou pior) na pauta das sociedades. No primeiro lugar, temos a garantia de que todos possam consumir, temos o nacionalismo, o etnocentrismo, o egoísmo e os outros “ismo” que divorciam os interesses dos vários grupos que ainda (com)vivem dentro de uma certa ordem institucional.
Para encerrar esta “provocação” no melhor sentido da palavra, penso de fato que a solução somente será possível a partir de uma nova forma de se reinventar do próprio capitalismo e não de outras ações, por mais contraditório que isso possa parecer. A solução para a crise do capital virá dele próprio e não de origens exógenas à de seu funcionamento. A questão principal a ser discutida é quando e a que custo? A metáfora do beija flor tentando apagar o incêndio da floresta já não me convence mais...
Realmente, Tudo está interliago, não tem como fragmentar, separar.
Se houvesse mais harmonia, a integração entre os seres seria de um mundo bem melhor. Não estamos aqui para "um comer do outro" ou "um roubar do outro". "um levar vantagem do outro" quem não entendeu isso ainda, infelizmente não entenderá algo maior.
Mônica
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