Estiveram presentes, no ato em defesa do Comdema – Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente realizado nesta segunda-feira (21) em frente à Prefeitura, cerca de trinta pessoas representando dezenove entidades que subscreveram carta endereçada a Prefeita Dárcy Vera, solicitando que não sancione a lei aprovada pela Câmara Municipal e que promova discussões mais democráticas sobre o tema.
A lei aprovada altera a composição do Comdema, passa a Presidência do Conselho ao Secretário de Meio Ambiente, determina horários de reuniões que inviabilizam a participação dos representantes da sociedade civil e restringe o direito de manifestação do cidadão comum presente nas reuniões.
Os manifestantes foram recebidos pelo Secretário de Governo Willian Latuf, que se incumbiu de encaminhar a carta à Prefeita com o compromisso de marcar nova audiência para tratar do assunto.
Continuem coletando as assinaturas no abaixo assinado que será entregue à Prefeita nessa audiência.
Espaço inspirado pela "práxis" Paulofreireana em que ação e reflexão são constituintes indissociáveis no processo de ser no mundo.
Páginas do Reflexações
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Petição sobre a marginal do Rio Tietê
Mesmo o movimento abaixo não tendo relação direta com a cidade de Ribeirão Preto, resolvi inclui-lo aqui com o objetivo de aumentar sua divulgação e também usá-lo como exemplo do surgimento de forças externas a governos e que são movidas pela idéia de que as cidades podem tratar melhor seus moradores no futuro. Repetir erros do passado pode trazer um certo alívio momentâneo para o presente, não sem, no entanto, comprometer seriamente a qualidade de vida de seus moradores no futuro próximo.
A lição poderia ser ouvida não só lá, mas aqui também.
Para: PREFEITURA DO MUNÍCIPIO DE SÃO PAULO E GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Assine o manifesto em:
http://www.petitiononline.com/mod_perl/signed.cgi?USP
Nós, professores da Universidade de São Paulo, preocupados com o futuro de São Paulo, vimos por meio deste apresentar nosso total repúdio à política pública urbana que vem sendo implementada no Município, denominada "Revitalização da Marginal do Rio Tietê", que prevê a construção de seis novas faixas de rolamento (três de cada lado) nessa via, consumindo R$ 1,3 bilhão em investimentos do Governo do Estado, da Prefeitura do Município de São Paulo, e das concessionárias das rodovias que usam o trajeto da Marginal.
Tal obra repete práticas de planejamento equivocadas, que levaram a metrópole ao colapso atual. Ao invés de reverter tal lógica, prioriza o transporte individual em detrimento do transporte coletivo, reproduzindo uma política excludente, além da triste tradição brasileira de obras vistosas que beneficiam a minoria e os setores especializados da construção civil. Ela se opõe frontalmente aos princípios de priorização do transporte coletivo sobre o individual constante do Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo e dos Planos Regionais Estratégicos das Subprefeituras.
O mais inaceitável é que os dados técnicos ratificam esta urgente e necessária priorização do transporte coletivo. A Pesquisa OD 2007, realizada pela Companhia do Metrô, mostra que: a taxa de motorização da Região Metropolitana é de menos de 20 veículos para cada cem habitantes; metade das famílias da região metropolitana não possui automóvel, parcela essa na qual se concentram as de mais baixa renda; e que um terço das 37,6 milhões de suas viagens diárias ainda é feita a pé, em função das péssimas condições sócio-econômicas da população. As viagens de automóvel correspondem a apenas 11,2 milhões, ou seja, aproximadamente 30% do total.
Se somarmos os gastos de todas as grandes obras viárias realizadas nos últimos 15 anos e daquelas previstas para o Centro Expandido da capital, aonde se concentram os estratos de maior renda, chega-se ao montante de vários bilhões de reais, valor mais que suficiente para a implantação de toda a Linha 4 – Amarela do metrô.
A Cidade do México, tomando um exemplo com alguma similaridade com São Paulo, iniciou o seu metrô na mesma época que nossa capital. Atualmente, apresenta uma rede com 202 km de extensão, face aos tímidos 61 km do metrô de São Paulo. Apesar da aceleração recente do ritmo das obras, o incentivo ao transporte coletivo é insuficiente, pois, mantendo-se o ritmo atual, serão necessários ainda assim aproximadamente 20 anos para alcançarmos a quilometragem da cidade do México.
Por outro lado, o sistema de trens, embora tenha uma quilometragem mais extensa que a do metrô, apresenta serviço irregular, com índices de conforto baixíssimos, espremendo seus usuários em uma concentração de 8,7 passageiros por metro quadrado nos trechos mais carregados no horário de pico, segundo dados da CPTM para maio de 2009. E mesmo o Metrô, que já foi fonte de orgulho quando da sua inauguração, ganhou o triste primeiro lugar em lotação entre todos os metrôs do mundo, segundo reportagens recentes.
Por fim, ressaltamos os problemas ambientais e de saúde publica resultantes dessa opção pelo transporte individual, que consome enorme quantidade de combustível fóssil, sendo que a emissão de gases poluentes por pessoa transportada é bem maior que a produzida pelo transporte público que se utiliza do mesmo combustível. Pesquisas do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP demonstram que a poluição é responsável por 8% das mortes por câncer de pulmão na cidade e que 15% das crianças internadas com pneumonia na rede hospitalar são vítimas da má qualidade do ar na cidade. Mesmo o recente Programa de Inspeção Veicular não consegue resolver esse problema em vista do crescimento da frota de veículos da metrópole que é de 10% ao ano. Além do mais, as obras da Marginal deverão ter impacto metropolitano e regional, porém foram licenciadas apenas no âmbito municipal.
Esse fabuloso investimento em um urbanismo rodoviarista em detrimento da construção de um sistema de transporte público amplo, eficiente e limpo, que atenderia à maioria da população, é um assustador retrocesso, que caminha na contramão da atual preocupação mundial com o meio ambiente. Acreditamos que as políticas públicas urbanas devam ser ambientalmente responsáveis e pautadas pelo atendimento das demandas da maior parte da sociedade. Políticas como aqui apontadas reforçam o caráter segregacionista da nossa cidade, privilegiando os estratos de maior renda e relegando a maioria da população a condições precárias de transporte e mobilidade, com danos ambientais para todos os cidadãos da metrópole. Por fim, esta obra não resolverá os problemas de transito da cidade, e muito menos da própria Marginal do Tietê.
Alexandre Delijaicov
Ana Cláudia C. Barone
Carlos Egídio Alonso
Catharina P. Cordeiro S. Lima
Eduardo A. C. Nobre
Erminia Maricato
Eugenio Queiroga
Euler Sandeville
Fábio Mariz Gonçalves
Flávio Villaça
João Sette Whitaker Ferreira
José Tavares Correia de Lira
Maria de Lourdes Zuquim
Maria Lucia Refinetti Martins
Nabil Bonduki
Paulo Sérgio Scarazzato
Paulo Pellegrino
Raquel Rolnik
Roberto Righi
Vladimir Bartalini
Sincerely,
The Undersigned
A lição poderia ser ouvida não só lá, mas aqui também.
Para: PREFEITURA DO MUNÍCIPIO DE SÃO PAULO E GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Assine o manifesto em:
http://www.petitiononline.com/mod_perl/signed.cgi?USP
Nós, professores da Universidade de São Paulo, preocupados com o futuro de São Paulo, vimos por meio deste apresentar nosso total repúdio à política pública urbana que vem sendo implementada no Município, denominada "Revitalização da Marginal do Rio Tietê", que prevê a construção de seis novas faixas de rolamento (três de cada lado) nessa via, consumindo R$ 1,3 bilhão em investimentos do Governo do Estado, da Prefeitura do Município de São Paulo, e das concessionárias das rodovias que usam o trajeto da Marginal.
Tal obra repete práticas de planejamento equivocadas, que levaram a metrópole ao colapso atual. Ao invés de reverter tal lógica, prioriza o transporte individual em detrimento do transporte coletivo, reproduzindo uma política excludente, além da triste tradição brasileira de obras vistosas que beneficiam a minoria e os setores especializados da construção civil. Ela se opõe frontalmente aos princípios de priorização do transporte coletivo sobre o individual constante do Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo e dos Planos Regionais Estratégicos das Subprefeituras.
O mais inaceitável é que os dados técnicos ratificam esta urgente e necessária priorização do transporte coletivo. A Pesquisa OD 2007, realizada pela Companhia do Metrô, mostra que: a taxa de motorização da Região Metropolitana é de menos de 20 veículos para cada cem habitantes; metade das famílias da região metropolitana não possui automóvel, parcela essa na qual se concentram as de mais baixa renda; e que um terço das 37,6 milhões de suas viagens diárias ainda é feita a pé, em função das péssimas condições sócio-econômicas da população. As viagens de automóvel correspondem a apenas 11,2 milhões, ou seja, aproximadamente 30% do total.
Se somarmos os gastos de todas as grandes obras viárias realizadas nos últimos 15 anos e daquelas previstas para o Centro Expandido da capital, aonde se concentram os estratos de maior renda, chega-se ao montante de vários bilhões de reais, valor mais que suficiente para a implantação de toda a Linha 4 – Amarela do metrô.
A Cidade do México, tomando um exemplo com alguma similaridade com São Paulo, iniciou o seu metrô na mesma época que nossa capital. Atualmente, apresenta uma rede com 202 km de extensão, face aos tímidos 61 km do metrô de São Paulo. Apesar da aceleração recente do ritmo das obras, o incentivo ao transporte coletivo é insuficiente, pois, mantendo-se o ritmo atual, serão necessários ainda assim aproximadamente 20 anos para alcançarmos a quilometragem da cidade do México.
Por outro lado, o sistema de trens, embora tenha uma quilometragem mais extensa que a do metrô, apresenta serviço irregular, com índices de conforto baixíssimos, espremendo seus usuários em uma concentração de 8,7 passageiros por metro quadrado nos trechos mais carregados no horário de pico, segundo dados da CPTM para maio de 2009. E mesmo o Metrô, que já foi fonte de orgulho quando da sua inauguração, ganhou o triste primeiro lugar em lotação entre todos os metrôs do mundo, segundo reportagens recentes.
Por fim, ressaltamos os problemas ambientais e de saúde publica resultantes dessa opção pelo transporte individual, que consome enorme quantidade de combustível fóssil, sendo que a emissão de gases poluentes por pessoa transportada é bem maior que a produzida pelo transporte público que se utiliza do mesmo combustível. Pesquisas do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP demonstram que a poluição é responsável por 8% das mortes por câncer de pulmão na cidade e que 15% das crianças internadas com pneumonia na rede hospitalar são vítimas da má qualidade do ar na cidade. Mesmo o recente Programa de Inspeção Veicular não consegue resolver esse problema em vista do crescimento da frota de veículos da metrópole que é de 10% ao ano. Além do mais, as obras da Marginal deverão ter impacto metropolitano e regional, porém foram licenciadas apenas no âmbito municipal.
Esse fabuloso investimento em um urbanismo rodoviarista em detrimento da construção de um sistema de transporte público amplo, eficiente e limpo, que atenderia à maioria da população, é um assustador retrocesso, que caminha na contramão da atual preocupação mundial com o meio ambiente. Acreditamos que as políticas públicas urbanas devam ser ambientalmente responsáveis e pautadas pelo atendimento das demandas da maior parte da sociedade. Políticas como aqui apontadas reforçam o caráter segregacionista da nossa cidade, privilegiando os estratos de maior renda e relegando a maioria da população a condições precárias de transporte e mobilidade, com danos ambientais para todos os cidadãos da metrópole. Por fim, esta obra não resolverá os problemas de transito da cidade, e muito menos da própria Marginal do Tietê.
Alexandre Delijaicov
Ana Cláudia C. Barone
Carlos Egídio Alonso
Catharina P. Cordeiro S. Lima
Eduardo A. C. Nobre
Erminia Maricato
Eugenio Queiroga
Euler Sandeville
Fábio Mariz Gonçalves
Flávio Villaça
João Sette Whitaker Ferreira
José Tavares Correia de Lira
Maria de Lourdes Zuquim
Maria Lucia Refinetti Martins
Nabil Bonduki
Paulo Sérgio Scarazzato
Paulo Pellegrino
Raquel Rolnik
Roberto Righi
Vladimir Bartalini
Sincerely,
The Undersigned
Ato público em defesa do COMDEMA
ATO EM DEFESA DO COMDEMA
O COMDEMA – Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente é uma instituição da sociedade civil organizada e se caracteriza pela Democracia Participativa estabelecida na Constituição Federal. É uma das formas democráticas de se fazer o controle social do estado.
Recentemente a prefeitura municipal aprovou uma lei de intervenção no Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, com a desculpa de que precisa adequar a composição desse Conselho às exigências do Governo do Estado de São Paulo para pontuar no Programa Município Verde Azul, o qual gratifica com verbas o município que cumprir dez diretivas ambientais: esgoto tratado, lixo mínimo, recuperação de mata ciliar, arborização urbana, educação ambiental, habitação sustentável, uso da água, poluição do ar, estrutura ambiental e conselho ambiental.
Essa lei alterou a composição do COMDEMA (criado em 1993) reduzindo a participação da sociedade civil, tirou o direito de voz dos convidados, estabeleceu horário comercial para as reuniões impedindo a participação do voluntário trabalhador e de quebra, determinou a presidência para o Secretário Municipal de Meio Ambiente.
Presidente, num estado democrático, deve ser eleito. É a intervenção do Poder Executivo sobre a sociedade civil.
Com a democracia participativa e por ação dos Conselhos Municipais é possível impedir que os interesses do capital se sobreponham aos interesses coletivos que são o bem estar de todos e o bom uso do dinheiro público.
PARTICIPE DO ATO E DO ABAIXO ASSINADO EM DEFESA DE UM COMDEMA PARTICIPATIVO E DEMOCRÁTICO
Dia 21/12 (segunda-feira) às 17h
Em frente à Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto
Apoio: Associação Cultural e Ecológica Pau Brasil, Associação Cultural e Humanística de Ribeirão Preto, Sociedade Ibiré, Federação Pardo Grande de Entidades Ecológicas e Ambientalistas, Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, CTB, Federação
O COMDEMA – Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente é uma instituição da sociedade civil organizada e se caracteriza pela Democracia Participativa estabelecida na Constituição Federal. É uma das formas democráticas de se fazer o controle social do estado.
Recentemente a prefeitura municipal aprovou uma lei de intervenção no Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, com a desculpa de que precisa adequar a composição desse Conselho às exigências do Governo do Estado de São Paulo para pontuar no Programa Município Verde Azul, o qual gratifica com verbas o município que cumprir dez diretivas ambientais: esgoto tratado, lixo mínimo, recuperação de mata ciliar, arborização urbana, educação ambiental, habitação sustentável, uso da água, poluição do ar, estrutura ambiental e conselho ambiental.
Essa lei alterou a composição do COMDEMA (criado em 1993) reduzindo a participação da sociedade civil, tirou o direito de voz dos convidados, estabeleceu horário comercial para as reuniões impedindo a participação do voluntário trabalhador e de quebra, determinou a presidência para o Secretário Municipal de Meio Ambiente.
Presidente, num estado democrático, deve ser eleito. É a intervenção do Poder Executivo sobre a sociedade civil.
Com a democracia participativa e por ação dos Conselhos Municipais é possível impedir que os interesses do capital se sobreponham aos interesses coletivos que são o bem estar de todos e o bom uso do dinheiro público.
PARTICIPE DO ATO E DO ABAIXO ASSINADO EM DEFESA DE UM COMDEMA PARTICIPATIVO E DEMOCRÁTICO
Dia 21/12 (segunda-feira) às 17h
Em frente à Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto
Apoio: Associação Cultural e Ecológica Pau Brasil, Associação Cultural e Humanística de Ribeirão Preto, Sociedade Ibiré, Federação Pardo Grande de Entidades Ecológicas e Ambientalistas, Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, CTB, Federação
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Dissolução do COMDEMA
Diante dos lastimáveis fatos que ocorreram no COMDEMA de Ribeirão Preto, o Reflexações Ambientais abre o espaço abaixo para a que um membro do Conselho destituído se pronuncie.
"Recentemente a prefeitura municipal aprovou uma lei de intervenção no Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, com a desculpa de que precisa adequar a composição desse Conselho às exigências do Governo do Estado (SMA) para pontuar no convênio Verde Azul.
Essa lei altera a sua composição (a única exigência do convênio) e aproveita para determinar que a sua presidência passa a ser do Secretário de Meio Ambiente e cria duas novas inovações: o horário de funcionamento passa a ser o comercial e só pode se manifestar quem antes do inicio dos trabalhos pedir licença e tiver a sua fala deferida.
Presidência vitalícia e nomeada pelo executivo não é presidência porque não é eleita. É a intervenção do executivo sobre a sociedade civil, É uma capatazia.
O COMDEMA é uma instituição da sociedade civil organizada e faz parte da Democracia Participativa determinada pela Constituição Federal. É uma das formas democráticas de se fazer o controle social do estado.
Hoje em dia, pelo Estatuto das Cidades, tenta-se organizar os municípios de forma sustentável. Ou seja, a cidade deve passar a ser administrada para que seja um lugar onde as pessoas vivam, trabalhem e sejam felizes, com qualidade de vida e não um amontoado de quadras, onde as pessoas se amontoam, separadas por vias para facilitar os negócios que interessam ao capital.
As cidades não cresciam porque inchavam ao sabor dos interesses de uma divindade negocial. As cidades tinham o seu desenvolvimento orientado pela teologia do Cifrão, ou seja, tudo o que dá lucro pode e. se não puder, muda-se a lei e, se não for possível mudar a lei, então dane-se a lei. Daí aquela velha expressão de “lei que pega e lei que não pega”.
Sabemos que as cidades ficaram insustentáveis por ações e omissões do poder público, todas absolutamente legais. É evidente que isso aconteceu por ação dos técnicos públicos que eram obrigados a seguirem as ordens superiores. Com a democracia participativa e por ação dos Conselhos Municipais é possível impedir essa pressão do capital sobre o crescimento das cidades. E isso não interessa ao capital.
Principalmente uma cidade como Ribeirão Preto, que tem um COMDEMA forte e que mantinha esses interesses sob cabresto. Era necessário domar esse Conselho. Para domar, precisa-se de alguém mais eficaz que um simples feitor.
É necessário um capataz e então se impõe um secretário como presidente e fixa-se um horário de funcionamento que só funcionários públicos a serviço do Executivo, e empregados do capital privado indicados por suas entidades de classe podem cumprir.
Os interesses da cidadania ficam irrepresentáveis. O Conselho que deveria estar a serviço da Democracia Participativa passa a ser um braço da burocracia a serviço de interesses do capital. E tudo isso é feito com pinturas de absoluta legalidade jurídica."
Lênio Severino Garcia
"Recentemente a prefeitura municipal aprovou uma lei de intervenção no Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, com a desculpa de que precisa adequar a composição desse Conselho às exigências do Governo do Estado (SMA) para pontuar no convênio Verde Azul.
Essa lei altera a sua composição (a única exigência do convênio) e aproveita para determinar que a sua presidência passa a ser do Secretário de Meio Ambiente e cria duas novas inovações: o horário de funcionamento passa a ser o comercial e só pode se manifestar quem antes do inicio dos trabalhos pedir licença e tiver a sua fala deferida.
Presidência vitalícia e nomeada pelo executivo não é presidência porque não é eleita. É a intervenção do executivo sobre a sociedade civil, É uma capatazia.
O COMDEMA é uma instituição da sociedade civil organizada e faz parte da Democracia Participativa determinada pela Constituição Federal. É uma das formas democráticas de se fazer o controle social do estado.
Hoje em dia, pelo Estatuto das Cidades, tenta-se organizar os municípios de forma sustentável. Ou seja, a cidade deve passar a ser administrada para que seja um lugar onde as pessoas vivam, trabalhem e sejam felizes, com qualidade de vida e não um amontoado de quadras, onde as pessoas se amontoam, separadas por vias para facilitar os negócios que interessam ao capital.
As cidades não cresciam porque inchavam ao sabor dos interesses de uma divindade negocial. As cidades tinham o seu desenvolvimento orientado pela teologia do Cifrão, ou seja, tudo o que dá lucro pode e. se não puder, muda-se a lei e, se não for possível mudar a lei, então dane-se a lei. Daí aquela velha expressão de “lei que pega e lei que não pega”.
Sabemos que as cidades ficaram insustentáveis por ações e omissões do poder público, todas absolutamente legais. É evidente que isso aconteceu por ação dos técnicos públicos que eram obrigados a seguirem as ordens superiores. Com a democracia participativa e por ação dos Conselhos Municipais é possível impedir essa pressão do capital sobre o crescimento das cidades. E isso não interessa ao capital.
Principalmente uma cidade como Ribeirão Preto, que tem um COMDEMA forte e que mantinha esses interesses sob cabresto. Era necessário domar esse Conselho. Para domar, precisa-se de alguém mais eficaz que um simples feitor.
É necessário um capataz e então se impõe um secretário como presidente e fixa-se um horário de funcionamento que só funcionários públicos a serviço do Executivo, e empregados do capital privado indicados por suas entidades de classe podem cumprir.
Os interesses da cidadania ficam irrepresentáveis. O Conselho que deveria estar a serviço da Democracia Participativa passa a ser um braço da burocracia a serviço de interesses do capital. E tudo isso é feito com pinturas de absoluta legalidade jurídica."
Lênio Severino Garcia
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Ribeirão Preto de Luto!!!
Lastimável mas não surpreendente.
Em tempos em que a vanguarda do pensamento em administração discute como fazer para desburocratizar a criação e implantação de políticas públicas e para envolver a sociedade na construção do bem comum, a prefeita de Ribeirão Preto, Darcy Vera, promove um retrocesso. Provavelmente, para ela e os seus, foi um "pequeno passo" rumo a interesses maiores mas, certamente para o resto da cidade, um "grande salto" para trás.
Foi votado no dia 08 de dezembro um projeto de lei para mudar as características do Conselho Municipal do Meio Ambiente, COMDEMA, fórum importante de participação pública nas discussões e decisões sobre as já combalidas condições ambientais da cidade.
Algumas novidades do projeto de lei são assustadoras: o novo presidente VITALÍCIO é o próprio secretário do meio ambiente, de um órgão que tem como uma de suas funções fiscalizar as ações da própria secretaria. Piada.
Outra, que os horários de reunião se darão, ao contrário do que ocorreu desde sempre, em horário de trabalho, para que os burocratas possam lotar os fóruns de forma remunerada, enquanto que historicamente os interessados no meio ambiente se esforçaram para estar presentes em horários alternativos. A partir de agora, só desempregado e funcionário da prefeitura participa das reuniões.
Várias outras considerações poderiam ser feitas aqui: o fato da secretaria atual simplesmente desconsiderar a existência do conselho enquanto não estava em suas mãos, de ser desrespeitoso ao ribeiraopretano em seus métodos, de nem realizar a obrigatória audiência pública para discutir a nova lei e etc. Mas nada disso mudará a postura da prefeitura da cidade, um trator sobre os direitos civis dos cidadãos.
Em pleno século XXI, em plena semana de Copenhage, um atentado à democracia. Uma vergonha. Ribeirão está de Luto!
Em tempos em que a vanguarda do pensamento em administração discute como fazer para desburocratizar a criação e implantação de políticas públicas e para envolver a sociedade na construção do bem comum, a prefeita de Ribeirão Preto, Darcy Vera, promove um retrocesso. Provavelmente, para ela e os seus, foi um "pequeno passo" rumo a interesses maiores mas, certamente para o resto da cidade, um "grande salto" para trás.
Foi votado no dia 08 de dezembro um projeto de lei para mudar as características do Conselho Municipal do Meio Ambiente, COMDEMA, fórum importante de participação pública nas discussões e decisões sobre as já combalidas condições ambientais da cidade.
Algumas novidades do projeto de lei são assustadoras: o novo presidente VITALÍCIO é o próprio secretário do meio ambiente, de um órgão que tem como uma de suas funções fiscalizar as ações da própria secretaria. Piada.
Outra, que os horários de reunião se darão, ao contrário do que ocorreu desde sempre, em horário de trabalho, para que os burocratas possam lotar os fóruns de forma remunerada, enquanto que historicamente os interessados no meio ambiente se esforçaram para estar presentes em horários alternativos. A partir de agora, só desempregado e funcionário da prefeitura participa das reuniões.
Várias outras considerações poderiam ser feitas aqui: o fato da secretaria atual simplesmente desconsiderar a existência do conselho enquanto não estava em suas mãos, de ser desrespeitoso ao ribeiraopretano em seus métodos, de nem realizar a obrigatória audiência pública para discutir a nova lei e etc. Mas nada disso mudará a postura da prefeitura da cidade, um trator sobre os direitos civis dos cidadãos.
Em pleno século XXI, em plena semana de Copenhage, um atentado à democracia. Uma vergonha. Ribeirão está de Luto!
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Manifesto em defesa do Código Florestal
Interrompemos nossas publicações de artigos para dar apoio ao Manifesto em Defesa do Código Florestal.
Acessem em:
http://www.institutoaf.org.br/2009/11/manifesto-em-defesa-do-codigo-florestal/
e deixem a sua assinatura.
Acessem em:
http://www.institutoaf.org.br/2009/11/manifesto-em-defesa-do-codigo-florestal/
e deixem a sua assinatura.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
A estratégia ruralista II
Outra característica do discursos ruralista na tentativa de derrubar o Código Florestal brasileiro é a de ampliar para todos um interesse próprio. Isso fica muito evidente quando dizem, por exemplo, que o Brasil é um "celeiro" e que precisa produzir para a "fome do mundo". Ora, o país inteiro ser um celeiro é um desejo deles, e não de todo mundo, afinal, quanto mais espaço puderem ocupar melhor para eles. No entanto, atribuem o interesse a todos como se fôssemos todos ganhar com isso.
Não estou nem discutindo aqui quem nos deu essa tarefa (a de produzir comida para o mundo todo) e nem a real necessidade disso (já que segundo a FAO há produção alimentar para mais de 9 bilhões de habitantes, quase uma vez e meia a mais do que temos de bocas atualmente para comer).
A estratégia é sutil e mesquinha. É preciso ficar de olho.
Não estou nem discutindo aqui quem nos deu essa tarefa (a de produzir comida para o mundo todo) e nem a real necessidade disso (já que segundo a FAO há produção alimentar para mais de 9 bilhões de habitantes, quase uma vez e meia a mais do que temos de bocas atualmente para comer).
A estratégia é sutil e mesquinha. É preciso ficar de olho.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Estratégia ruralista
Não é a primeira vez que o Código Florestal Brasileiro entra na mira das moto-serras ruralistas. Desta vez, no entanto, a estratégia conta com algumas novas nuances sutis para o convencimento da população comum: a primeira delas, os ruralistas não se autoentitulam ruralistas mais. Se descrevem como "produtores de alimentos" e usam a mais velha e manjada justificativa para a barbaridade que estão propondo: acabar com a fome no mundo! Que bonzinhos!
Já é hora, no entanto, da sociedade, que na esperança desse feito permitiu outras barbaridades no passado, parar de ter esperanças e começar a cobrar: a revolução verde (uso de inseticidas e herbicidas) foi justificada pela promessa de alimentar a todos no globo. A aprovação das sementes transgênicas também. No entanto, APESAR da quantidade de veneno que a gente come todo dia e das culturas geneticamente modificadas, o mundo continua, em sua maioria, faminto. Ao mesmo tempo, a produção mundial atual poderia alimentar mais de 9 bilhões de habitantes segundo a FAO (Órgão das Nações Unidas sobre Agricultura e Alimentação), ou seja, uma vez e meia a população global!
Por que o discurso ruralista continua pegando? Porque eles fazem associações erradas e misturam causas com consequências, e ajudados pelo baixo nível crítico da população, dão uma explicação simples para um problema complexo.
É preciso que o desmascaramento do discurso ruralista se faça de forma ampla e massificada para mantermos a legislação ambiental brasileira intacta hoje e quando eles retomarem os ataques no futuro.
Já é hora, no entanto, da sociedade, que na esperança desse feito permitiu outras barbaridades no passado, parar de ter esperanças e começar a cobrar: a revolução verde (uso de inseticidas e herbicidas) foi justificada pela promessa de alimentar a todos no globo. A aprovação das sementes transgênicas também. No entanto, APESAR da quantidade de veneno que a gente come todo dia e das culturas geneticamente modificadas, o mundo continua, em sua maioria, faminto. Ao mesmo tempo, a produção mundial atual poderia alimentar mais de 9 bilhões de habitantes segundo a FAO (Órgão das Nações Unidas sobre Agricultura e Alimentação), ou seja, uma vez e meia a população global!
Por que o discurso ruralista continua pegando? Porque eles fazem associações erradas e misturam causas com consequências, e ajudados pelo baixo nível crítico da população, dão uma explicação simples para um problema complexo.
É preciso que o desmascaramento do discurso ruralista se faça de forma ampla e massificada para mantermos a legislação ambiental brasileira intacta hoje e quando eles retomarem os ataques no futuro.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Serviços Ambientais
Vocês sabem o que são serviços ambientais?
São aqueles benefícios que todos nós recebemos da natureza, "gratuitamente". Esses serviços podem ser divididos em 4 categorias: Provisão, Regulação, Suporte e Culturais.
Os serviços de provisão são aquelas coisas que a natureza nos "fornece", como água, fibras, alimentos, "recursos genéticos" e combustíveis.
Os serviços de regulação são os processos regulatórios que a natureza propicia, como a regulação de temperaturas e umidade, o controle de pragas e doenças etc.
Os serviços culturais são todos os símbolos culturais que atribuímos a ela, sejam eles sagrados ou não, e que muitas vezes são a liga de coesão de uma sociedade.
Já o serviços de suporte são aqueles que dão suporte a todos os demais, como a formação de solos.
A catástrofe climática e ambiental que vivemos decorre das substituições desses serviços, em grande parte trocando os de regulação, suporte e culturais pelo de provisão. Como a demanda é crescente por "coisas da natureza", os demais entram em desequilíbrio. Está aí a insustentabilidade do nosso modo de vida.
São aqueles benefícios que todos nós recebemos da natureza, "gratuitamente". Esses serviços podem ser divididos em 4 categorias: Provisão, Regulação, Suporte e Culturais.
Os serviços de provisão são aquelas coisas que a natureza nos "fornece", como água, fibras, alimentos, "recursos genéticos" e combustíveis.
Os serviços de regulação são os processos regulatórios que a natureza propicia, como a regulação de temperaturas e umidade, o controle de pragas e doenças etc.
Os serviços culturais são todos os símbolos culturais que atribuímos a ela, sejam eles sagrados ou não, e que muitas vezes são a liga de coesão de uma sociedade.
Já o serviços de suporte são aqueles que dão suporte a todos os demais, como a formação de solos.
A catástrofe climática e ambiental que vivemos decorre das substituições desses serviços, em grande parte trocando os de regulação, suporte e culturais pelo de provisão. Como a demanda é crescente por "coisas da natureza", os demais entram em desequilíbrio. Está aí a insustentabilidade do nosso modo de vida.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Raposas cuidando das galinhas.
Pois é, e lá vem os Ruralistas de novo. E fortes. A presidência da Comissão Especial de Meio Ambiente da Câmara, que discutirá alterações no Código Florestal, ficou nas mãos de Moacir Micheletto (PMDB-PR), notável usuário da serra elétrica em nome do "Agronegócio". Mais uma vez o país corre sérios riscos de sofrer mudanças irreversíveis. O que eles querem é sabido: acabar com a obrigatoriedade da Reserva Legal (80% na Amazônia, 35% nas áreas de cerrado na Amazônia e 20% nos demais estados brasileiros) em nome, principalmente, da continuação da concentração das terras nacionais.
Isso será a pá de cal nas esperanças em um país que seja capaz de preservar ecossistemas e seus serviços ambientais.
Na década de 70, durante a Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, a posição oficial brasileira estava estampada em um cartaz: "bem vinda à poluição, estamos abertos para ela, o Brasil é um país que não tem restrições. Temos várias cidades que receberiam de braços abertos a sua poluição, porque o que nós queremos são empregos, são dólares para o nosso desenvolvimento"*.
Passados 37 anos e enfiado o mundo numa crise ambiental sem precedentes, por aqui parece que nada mudou.
Para finalizar, uma pérola de Luiz Carlos Henze, ruralista do PP-RS e membro na Comissão Especial do Código Florestal. Disse o sábio: "Os americanos, os europeus não preservaram. E agora os trouxas do Brasil precisam [preservar]?**
E a sociedade civil e eleitora? Onde está?
* Educação ambiental, princípios e práticas. De Genebaldo Freire Dias.
** Artigo publicado na Folha de São Paulo no dia 15/10/09
Isso será a pá de cal nas esperanças em um país que seja capaz de preservar ecossistemas e seus serviços ambientais.
Na década de 70, durante a Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, a posição oficial brasileira estava estampada em um cartaz: "bem vinda à poluição, estamos abertos para ela, o Brasil é um país que não tem restrições. Temos várias cidades que receberiam de braços abertos a sua poluição, porque o que nós queremos são empregos, são dólares para o nosso desenvolvimento"*.
Passados 37 anos e enfiado o mundo numa crise ambiental sem precedentes, por aqui parece que nada mudou.
Para finalizar, uma pérola de Luiz Carlos Henze, ruralista do PP-RS e membro na Comissão Especial do Código Florestal. Disse o sábio: "Os americanos, os europeus não preservaram. E agora os trouxas do Brasil precisam [preservar]?**
E a sociedade civil e eleitora? Onde está?
* Educação ambiental, princípios e práticas. De Genebaldo Freire Dias.
** Artigo publicado na Folha de São Paulo no dia 15/10/09
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Audiência Pública sobre o COMDEMA - algumas impressões
A audiência, na verdade, correu de forma mais tranquila do que o imaginado. Ela foi presidida pelo Secretário do Meio Ambiente de Ribeirão Preto e segundo o mesmo teve o objetivo de colher sugestões dos participantes a respeito de melhorias para o projeto de lei.
Várias sugestões foram feitas, com ênfase para a manutenção do nome do conselho, por já ter um reconhecimento histórico e uma identidade; a mudança na composição, mas não com a composição sugerida pelo projeto de lei, mas por uma outra, sugerida pelos próprios membros do COMDEMA; a manutenção do horário das reuniões - o projeto de lei obrigaria reuniões ocorrendo no período de trabalho vespertino, entre 14 e 18h, o que dificultaria a participação da sociedade civil organizada (as reuniões atualmente ocorrem depois das 18h); a continuação do processo de eleição para a escolha do Presidente do Conselho, em oposição ao projeto de lei que propunha que o Conselho seria presidido pelo Secretário Municipal do Meio Ambiente).
As impressões que ficaram ao final da reunião foi de que a proposta de lei, levada à votação na Câmara Municipal sem a devida discussão antecipada no COMDEMA,
praticamente transformava o Conselho em um órgão da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, pois seria presidida pelo SR. Secretário, ocorreria em horário de trabalho a despeito das implicações para a sociedade civil, reduziria os componentes da sociedade civil e aumentaria os da própria secretaria e ainda outras coisas.
Infelizmente, a questão ambiental, ao que parece, no município, caminha em direção oposta ao que se tem falado e agido em países mais organizados do mundo, que criam instâncias de participação pública e estimulam o envolvimento das pessoas com as discussões ligadas ao meio ambiente. Por aqui, por outro lado, tecnifica-se a discussão, aumenta-se a burocracia e exclui-se o cidadão, como se o poder público fosse capaz de, sozinho, dar conta das questões ambientais.
É uma pena. Fica aqui a esperança de que as reivindicações da Sociedade Civil Organizada da cidade de Ribeirão Preto sejam consideradas na essência e que o fim do processo não represente um retrocesso na história do Conselho. Riberão Preto já tem problemas ambientais demais para criar ainda mais um.
Está aberto neste blog um espaço para a participação daqueles que estiveram na audiência e também que participam do COMDEMA.
Várias sugestões foram feitas, com ênfase para a manutenção do nome do conselho, por já ter um reconhecimento histórico e uma identidade; a mudança na composição, mas não com a composição sugerida pelo projeto de lei, mas por uma outra, sugerida pelos próprios membros do COMDEMA; a manutenção do horário das reuniões - o projeto de lei obrigaria reuniões ocorrendo no período de trabalho vespertino, entre 14 e 18h, o que dificultaria a participação da sociedade civil organizada (as reuniões atualmente ocorrem depois das 18h); a continuação do processo de eleição para a escolha do Presidente do Conselho, em oposição ao projeto de lei que propunha que o Conselho seria presidido pelo Secretário Municipal do Meio Ambiente).
As impressões que ficaram ao final da reunião foi de que a proposta de lei, levada à votação na Câmara Municipal sem a devida discussão antecipada no COMDEMA,
praticamente transformava o Conselho em um órgão da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, pois seria presidida pelo SR. Secretário, ocorreria em horário de trabalho a despeito das implicações para a sociedade civil, reduziria os componentes da sociedade civil e aumentaria os da própria secretaria e ainda outras coisas.
Infelizmente, a questão ambiental, ao que parece, no município, caminha em direção oposta ao que se tem falado e agido em países mais organizados do mundo, que criam instâncias de participação pública e estimulam o envolvimento das pessoas com as discussões ligadas ao meio ambiente. Por aqui, por outro lado, tecnifica-se a discussão, aumenta-se a burocracia e exclui-se o cidadão, como se o poder público fosse capaz de, sozinho, dar conta das questões ambientais.
É uma pena. Fica aqui a esperança de que as reivindicações da Sociedade Civil Organizada da cidade de Ribeirão Preto sejam consideradas na essência e que o fim do processo não represente um retrocesso na história do Conselho. Riberão Preto já tem problemas ambientais demais para criar ainda mais um.
Está aberto neste blog um espaço para a participação daqueles que estiveram na audiência e também que participam do COMDEMA.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Audiência Pública sobre o COMDEMA de Ribeirão Preto
A ação ambiental deve ir além da simples adequação dos métodos produtivos. Ela precisa questionar a lógica que legitima o acesso, a propriedade e a exploração da natureza.
Com a municipalização dos processos de licenciamento ambiental, a prefeitura municipal de Ribeirão Preto está promovendo um movimento no sentido de enfraquecer a participação da sociedade civil organizada no Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, COMDEMA. Tal enfraquecimento se daria por mudanças no estatuto do Conselho, que estão sendo propostas por um projeto de lei.
Uma audiência pública será realizada neste sexta-feira, dia 25 de setembro, às 15 horas, no auditório do SENAI da cidade.
Não é possível que a atuação da sociedade fique limitada a ações paliativas enquanto que a gestão municipal promove movimentos políticos estruturais que podem prejudicar o futuro da cidade.
A cidade é de todos!
Todos têm o direito e devem exigir o direito de participar das decisões que influenciarão seus futuros.
Com a municipalização dos processos de licenciamento ambiental, a prefeitura municipal de Ribeirão Preto está promovendo um movimento no sentido de enfraquecer a participação da sociedade civil organizada no Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, COMDEMA. Tal enfraquecimento se daria por mudanças no estatuto do Conselho, que estão sendo propostas por um projeto de lei.
Uma audiência pública será realizada neste sexta-feira, dia 25 de setembro, às 15 horas, no auditório do SENAI da cidade.
Não é possível que a atuação da sociedade fique limitada a ações paliativas enquanto que a gestão municipal promove movimentos políticos estruturais que podem prejudicar o futuro da cidade.
A cidade é de todos!
Todos têm o direito e devem exigir o direito de participar das decisões que influenciarão seus futuros.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Desenvolvimento - Parte 8
Uma iniciativa muito interessante que visa transcender o PIB e mesmo o IDH como indicador de desenvolvimento é o FIB, ou Felicidade Interna Bruta.
Esse conceito nasceu no Butão, pequeno reino do Himalaia, quando o rei começou, no início dos anos 70, a se questionar sobre a validade do PIB como indicador de desenvolvimento. O FIB é construído sobre quatro pilares: economia, cultura, meio ambiente e boa governança, dos quais derivam 9 domínios, de onde são extraídos indicadores para que a “Felicidade” de uma nação seja avaliada. Os domínios são:
Bem-estar psicológico
Meio Ambiente
Saúde
Educação
Cultura
Padrão de vida
Uso do tempo
Vitalidade Comunitária
Boa Governança
Como se vê, a idéia do FIB desafia as tendências hegemônicas de avaliação de desenvolvimento e insere novos fatores que diminuem suas contradições, como por exemplo, na questão da 'boa governança', que diminuirá o padrão de desenvolvimento de um país caso os índices de corrupção pública sejam muito altos, caso caro ao governo atual do Brasil, que busca melhorar o "desenvolvimento" do país apoiando-se em atores políticos historicamente relacionados à corrupção.
Maiores detalhes sobre o FIB podem ser encontrados na página:
http://www.felicidadeinternabruta.com.br/
Esse conceito nasceu no Butão, pequeno reino do Himalaia, quando o rei começou, no início dos anos 70, a se questionar sobre a validade do PIB como indicador de desenvolvimento. O FIB é construído sobre quatro pilares: economia, cultura, meio ambiente e boa governança, dos quais derivam 9 domínios, de onde são extraídos indicadores para que a “Felicidade” de uma nação seja avaliada. Os domínios são:
Bem-estar psicológico
Meio Ambiente
Saúde
Educação
Cultura
Padrão de vida
Uso do tempo
Vitalidade Comunitária
Boa Governança
Como se vê, a idéia do FIB desafia as tendências hegemônicas de avaliação de desenvolvimento e insere novos fatores que diminuem suas contradições, como por exemplo, na questão da 'boa governança', que diminuirá o padrão de desenvolvimento de um país caso os índices de corrupção pública sejam muito altos, caso caro ao governo atual do Brasil, que busca melhorar o "desenvolvimento" do país apoiando-se em atores políticos historicamente relacionados à corrupção.
Maiores detalhes sobre o FIB podem ser encontrados na página:
http://www.felicidadeinternabruta.com.br/
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Uma ilustração da contradição do processo de desenvolvimento
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Desenvolvimento - parte 7
Quando pensamos em desenvolvimento automaticamente nos remetemos aos seguintes fatores: a renda (do país, da cidade, etc) transformada em bens de consumo (assim pensamos que toda pessoa em carros caros é rica, nunca considerando que podem estar afundados em dívidas)e desenvolvimento tecnológico (considerando 'tecnologia' tudo aquilo ligado à informática ou à cibernética, aparatos cada vez menores e que prestam cada vez mais serviços ao mesmo tempo e etc). Esses são pressupostos do desenvolvimento na nossa cultura: aqueles que os têm são desenvolvidos e os que não os têm são SUB, são menos.
Como já discutido em artigos anteriores, esse pensamento leva a uma padronização do mundo e não nos deixa uma escapatória cultural: todos seremos iguais tendo acesso às mesmas e últimas tecnologias.
Dentro desse pensamento, culturas milenares como as indígenas ou orientais são SUB, mesmo sendo milenares. A contradição é que são SUB aqueles que conseguiram construir um modo de vida que os permitiram sobreviver por tanto tempo e que nós, que somos 'desenvolvidos', produzimos um modo de vida que está muito perto da beira do colapso.
Pois bem, por quê, na medida do desenvolvimento, para voltar à questão dos indicadores, não incluimos índices que medem corrupção, violência, degradação do meio ambiente? Assim, automaticamente, um país/estado/cidade/pessoa rica porém corrupta deixaria de ser um modelo de vida para ser um bom mau exemplo.
É apenas questionando os indicadores atuais que medem o desempenho de uma sociedade e introduzindo outros que desqualificam as posturas que geram sofrimento que teremos finalmente uma mudança profunda no nosso modo de vida.
Vocês conhecem um conjunto de indicadores que já faz isso?
Como já discutido em artigos anteriores, esse pensamento leva a uma padronização do mundo e não nos deixa uma escapatória cultural: todos seremos iguais tendo acesso às mesmas e últimas tecnologias.
Dentro desse pensamento, culturas milenares como as indígenas ou orientais são SUB, mesmo sendo milenares. A contradição é que são SUB aqueles que conseguiram construir um modo de vida que os permitiram sobreviver por tanto tempo e que nós, que somos 'desenvolvidos', produzimos um modo de vida que está muito perto da beira do colapso.
Pois bem, por quê, na medida do desenvolvimento, para voltar à questão dos indicadores, não incluimos índices que medem corrupção, violência, degradação do meio ambiente? Assim, automaticamente, um país/estado/cidade/pessoa rica porém corrupta deixaria de ser um modelo de vida para ser um bom mau exemplo.
É apenas questionando os indicadores atuais que medem o desempenho de uma sociedade e introduzindo outros que desqualificam as posturas que geram sofrimento que teremos finalmente uma mudança profunda no nosso modo de vida.
Vocês conhecem um conjunto de indicadores que já faz isso?
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Desenvolvimento - Parte 6
Quando analisada de uma maneira objetiva, toda a discussão acerca do 'Desenvolvimento' se refere, por fim, aos indicadores usados para medi-lo. Tradicionalmente, como visto, são exclusivamente econômicos e como consequência reduzem o planeta a uma arena econômica, para usar a expressão de Wolfgang Sachs, e são absolutamente insensíveis a qualquer outro aspecto presente na realidade. Promovem as consequências que todos conhecemos.
Uma tentativa mais abrangente de indicador é o Índice de Desenvolvimento Humano ou IDH, que, além da renda considera também a longevidade do povo e seu nível de educação. Sendo medido desde a década de noventa, o IDH traz novos focos de atenção mas ainda é insuficiente no que se refere à questão ambiental ou à sustentabilidade. Isso pode ser visto no fato de que os países com maior IDH são aqueles que possuem a maior pegada ecológica, ou seja, aqueles que exercem a maior pressão sobre o planeta.
É necessário ir além, portanto.
Termino este artigo com uma provocação: quais seriam os aspectos importantes de serem incluídos em um índice que mede a sustentabilidade, e portanto o real desenvolvimento, de um país?
Uma tentativa mais abrangente de indicador é o Índice de Desenvolvimento Humano ou IDH, que, além da renda considera também a longevidade do povo e seu nível de educação. Sendo medido desde a década de noventa, o IDH traz novos focos de atenção mas ainda é insuficiente no que se refere à questão ambiental ou à sustentabilidade. Isso pode ser visto no fato de que os países com maior IDH são aqueles que possuem a maior pegada ecológica, ou seja, aqueles que exercem a maior pressão sobre o planeta.
É necessário ir além, portanto.
Termino este artigo com uma provocação: quais seriam os aspectos importantes de serem incluídos em um índice que mede a sustentabilidade, e portanto o real desenvolvimento, de um país?
terça-feira, 21 de julho de 2009
Desenvolvimento - Parte 5
Mesmo quando aceitos e considerados como realmente indicativos de 'desenvolvimento', uma análise dos indicadores econômicos ao longo da história demonstram que a possibilidade de mobilidade ascendente na hierarquia capitalista mundial é um fato muito improvável. O autor Giovanni Arrighi, em seu livro 'A ilusão do desenvolvimento' faz essa demonstração, indicando que, em um mundo dividido em um núcleo orgânico, formado por países desenvolvidos, uma semiperiferia, com países emergentes e a periferia pobre, entre 1938 e 1983, apenas Japão e Itália deixaram a semiperiferia para povoar o núcleo orgânico e Coréia do Sul e Taiwan deixaram a periferia pobre para se ingressarem na semiperiferia. Para os demais países as mudanças não se mostraram significativas, apesar de todos os 'efeitos colaterais' já discutidos.
Esses dados demonstram claramente que mesmo economicamente o 'desenvolvimento' é um conceito e uma referência de análise que não se sustenta. O que vocês pensam sobre isso?
Esses dados demonstram claramente que mesmo economicamente o 'desenvolvimento' é um conceito e uma referência de análise que não se sustenta. O que vocês pensam sobre isso?
terça-feira, 14 de julho de 2009
Desenvolvimento - Parte 4
Há vários autores que são críticos acerca da ideologia do desenvolvimento e de seus indicadores. Neste artigo darei visibilidade para um deles, Celso Furtado, fazendo uso de um de seus livros publicados ainda na década de 70, 'O mito do desenvolvimento econômico'. Como o próprio título da obra já aponta, o autor é bastante enfático na crítica que faz ao que considera um mito. Vejamos um trecho, presente também no livro 'Desenvolvimento Sustentável', de José Eli da Veiga:
"Como negar que essa idéia [de desenvolvimento econômico] tem sido de grande utilidade para mobilizar os povos da periferia e levá-los a aceitar enormes sacrifícios, para legitimar a destruição de formas de culturas arcaicas, para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio físico, para justificar formas de dependência que reforçam o caráter predatório do sistema produtivo?"
Como é muito bem colocado por Celso Furtado, a reboque dos discursos por democracia, liberdade e principalmente modernidade, está na verdade uma proposta de modo de vida que é ambientalmente insustentável (degrada a natureza), socialmente injusto (beneficia uma parcela muito pequena da população) e individuamente insalubre (pois o indivíduo é onde o 'modo de vida' se recai, gerando problemas de saúde física - desnutrição, hipercaloria, sedentarismo - e mental - síndrome do pânico, depressão e outros transtornos). Apesar de promover visivelmente tudo isso, no entanto, a idéia de 'desenvolvimento' permanece como um lugar sagrado que deve ser mantido intocado e inquestionado, vendendo a percepção de um amanhã melhor e entregando outra coisa, para imediatamente se colocar como a solução para a nova condição que se criou.
"Como negar que essa idéia [de desenvolvimento econômico] tem sido de grande utilidade para mobilizar os povos da periferia e levá-los a aceitar enormes sacrifícios, para legitimar a destruição de formas de culturas arcaicas, para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio físico, para justificar formas de dependência que reforçam o caráter predatório do sistema produtivo?"
Como é muito bem colocado por Celso Furtado, a reboque dos discursos por democracia, liberdade e principalmente modernidade, está na verdade uma proposta de modo de vida que é ambientalmente insustentável (degrada a natureza), socialmente injusto (beneficia uma parcela muito pequena da população) e individuamente insalubre (pois o indivíduo é onde o 'modo de vida' se recai, gerando problemas de saúde física - desnutrição, hipercaloria, sedentarismo - e mental - síndrome do pânico, depressão e outros transtornos). Apesar de promover visivelmente tudo isso, no entanto, a idéia de 'desenvolvimento' permanece como um lugar sagrado que deve ser mantido intocado e inquestionado, vendendo a percepção de um amanhã melhor e entregando outra coisa, para imediatamente se colocar como a solução para a nova condição que se criou.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Desenvolvimento - Parte 3
Uma segunda consequência do processo de 'desenvolvimento' é justamente a criação de uma 'corrida', que já se inicia com líderes (os países 'arquétipos' para o desenvolvimento) e 'atrasados' (os demais, mais lentos). A corrida, ironicamente sem fim e portanto sem possibilidade de reais vencedores ou perdedores, no entanto serve para movimentar mentes, corações e braços rumo ao processo de transformação e para justificar todo tipo de barbaridade e violência (contra a cultura, contra o meio físico, contra a saúde, contra o bem comum), agora sob a égide do progresso. Da mesma forma, a pressa em se desenvolver, motivada pela corrida com suposto fim, se torna um excelente mecanismo para impedir as reflexões, a discussão das consequências e o envolvimento da comunidade no processo de tomada de decisões cujas consequências recairão.
O interessante disso tudo é que 'desenvolvimento' acaba se tornando um conceito coringa, pois sua complexidade inibe reflexões mais profundas, seu sentido positivo estimula as esperanças e, no fim das contas, se molda a qualquer conjunto de idéias. Assim, todo mundo acredita no desenvolvimento apesar de não ter a menor idéia do que ele signifique objetivamente. Um prato cheio para os aproveitadores.
Obviamente há críticos sobre essa idéia de desenvolvimento e alguns deles serão discutidos no próximo artigo.
O interessante disso tudo é que 'desenvolvimento' acaba se tornando um conceito coringa, pois sua complexidade inibe reflexões mais profundas, seu sentido positivo estimula as esperanças e, no fim das contas, se molda a qualquer conjunto de idéias. Assim, todo mundo acredita no desenvolvimento apesar de não ter a menor idéia do que ele signifique objetivamente. Um prato cheio para os aproveitadores.
Obviamente há críticos sobre essa idéia de desenvolvimento e alguns deles serão discutidos no próximo artigo.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Desenvolvimento - Parte 2
Desconsiderando-se a questão geográfica do nascimento, quais são os fatores de uma nação que atribuem identidade a seus cidadãos? O que nos diferencia, como brasileiros, dos japoneses ou kenianos?
A identidade de um povo é determinada por diversos e complexos aspectos inerentes a sua origem e história e é expressa, entre outros, por meio da arte, música, danças, estética, culinária, cerimôniais, da língua e sua espiritualidade. Tudo isso, em suma, demonstra o conjunto de valores predominantes em um determinado local.
Assim, brasileiros, japoneses e kenianos, além de terem nascido em lugares diferentes, possuem diferentes origens e histórias e isso se traduz na diversidade cultural encontrada entre eles.
Imaginem então que, a partir de 1949, com nascente ideologia do desenvolvimento (vide Desenvolvimento - Parte 1, abaixo), todos esses e outros aspectos identitários de uma nação deixam de ter valor primordial e passam a uma condição secundária e inferior ao projeto de "desenvolvimento" mundial, pautado e medido simplesmente por meio indicadores econômicos em que, em última análise, aquilo que não produz renda não é mais relevante.
Assim, a corrida pela "modernização" faria com que, de tudo o que participava da formação da identidade de um povo, apenas aqueles aspectos capazes de serem transformados em produtos fossem mantidos. Os demais passariam a ser associados à condição de "primitividade", da qual os países agora deveriam se livrar para se "modernizar". Inicia-se, no mundo, uma busca por ocidentalização, ou seja, por aquelas características que agora identificariam o país como "desenvolvido", e uma espécie de envergonhamento por tudo aquilo que não seja ligado à cultura de consumo: paulatinamente, a própria identidade dos povos passam a significar atraso e a resposta para isso, óbvia, é o consumo da cultura dos "avançados".
Assim, o caipira dá lugar ao 'cawboy' e a liquidação à 'sale', sem perceber que a dependência cultural é a ferida por onde a dependência econômica se instala.
Quais outras consequências do processo de transformação do mundo em uma arena econômica? Dê sua opinião.
A identidade de um povo é determinada por diversos e complexos aspectos inerentes a sua origem e história e é expressa, entre outros, por meio da arte, música, danças, estética, culinária, cerimôniais, da língua e sua espiritualidade. Tudo isso, em suma, demonstra o conjunto de valores predominantes em um determinado local.
Assim, brasileiros, japoneses e kenianos, além de terem nascido em lugares diferentes, possuem diferentes origens e histórias e isso se traduz na diversidade cultural encontrada entre eles.
Imaginem então que, a partir de 1949, com nascente ideologia do desenvolvimento (vide Desenvolvimento - Parte 1, abaixo), todos esses e outros aspectos identitários de uma nação deixam de ter valor primordial e passam a uma condição secundária e inferior ao projeto de "desenvolvimento" mundial, pautado e medido simplesmente por meio indicadores econômicos em que, em última análise, aquilo que não produz renda não é mais relevante.
Assim, a corrida pela "modernização" faria com que, de tudo o que participava da formação da identidade de um povo, apenas aqueles aspectos capazes de serem transformados em produtos fossem mantidos. Os demais passariam a ser associados à condição de "primitividade", da qual os países agora deveriam se livrar para se "modernizar". Inicia-se, no mundo, uma busca por ocidentalização, ou seja, por aquelas características que agora identificariam o país como "desenvolvido", e uma espécie de envergonhamento por tudo aquilo que não seja ligado à cultura de consumo: paulatinamente, a própria identidade dos povos passam a significar atraso e a resposta para isso, óbvia, é o consumo da cultura dos "avançados".
Assim, o caipira dá lugar ao 'cawboy' e a liquidação à 'sale', sem perceber que a dependência cultural é a ferida por onde a dependência econômica se instala.
Quais outras consequências do processo de transformação do mundo em uma arena econômica? Dê sua opinião.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Desenvolvimento - Parte 1
Um dos aspectos mais fundamentais no enfrentamento das questões relacionadas ao meio ambiente é o desafio ao conceito de "desenvolvimento". Arraigado em nossa cultura, a idéia de "desenvolvimento" é extremamente contraditória, pois ao mesmo tempo em que signica uma coisa boa, justifica todo tipo de barbaridade contra as pessoas, o meio físico e etc.
Desde o final da segunda guerra mundial, em 1945, quando iniciaram-se as articulações no sentido de se dar ao mundo o formato que conhecemos hoje, o "desenvolvimento" se tornou o projeto civilizatório global, sendo adotado na maioria dos países do planeta.
A partir de agora o blog "Reflexações Ambientais" iniciará uma série de artigos que abordarão um pouco das origens e história do desenvolvimento e também suas consequências e contradições.
O conceito de desenvolvimento, e portanto de subdesenvolvimento, foi cunhado pelo então recém eleito presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, no dia 20 de Janeiro de 1949. Nessa data, em seu discurso de posse, o presidente colocou pela primeira vez na história que o mundo era formado por dois tipos de países, desenvolvidos e subdesenvolvidos, condições medidas exclusivamente pelos indicadores econômicos Produto Interno Bruto e Renda per Capta. A partir de 1949, portanto, um país desenvolvido seria aquele que tivesse o PIB e a RPC altos.
Essa proposta, empurrada para o mundo pelo contexto em que se dava, é levada para os mais diversos países e se torna o motor civilizatório do ocidente. Assim, os países são estimulados a convergirem suas energias na elevação do PIB e RPC a qualquer custo.
Claramente, o conceito de desenvolvimento nascente, baseado exclusivamente em indicadores econômicos, vai criar, de um lado, uma ideologia que o sustenta até os dias atuais e, do outro, graves consequências, algumas das quais discutidas no próximo artigo.
*Uma excelente leitura sobre o assunto é o livro 'Global Ecology, a new arena of political conflict', de Wolfgang Sachs, Zedbooks, 1995.
Desde o final da segunda guerra mundial, em 1945, quando iniciaram-se as articulações no sentido de se dar ao mundo o formato que conhecemos hoje, o "desenvolvimento" se tornou o projeto civilizatório global, sendo adotado na maioria dos países do planeta.
A partir de agora o blog "Reflexações Ambientais" iniciará uma série de artigos que abordarão um pouco das origens e história do desenvolvimento e também suas consequências e contradições.
O conceito de desenvolvimento, e portanto de subdesenvolvimento, foi cunhado pelo então recém eleito presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, no dia 20 de Janeiro de 1949. Nessa data, em seu discurso de posse, o presidente colocou pela primeira vez na história que o mundo era formado por dois tipos de países, desenvolvidos e subdesenvolvidos, condições medidas exclusivamente pelos indicadores econômicos Produto Interno Bruto e Renda per Capta. A partir de 1949, portanto, um país desenvolvido seria aquele que tivesse o PIB e a RPC altos.
Essa proposta, empurrada para o mundo pelo contexto em que se dava, é levada para os mais diversos países e se torna o motor civilizatório do ocidente. Assim, os países são estimulados a convergirem suas energias na elevação do PIB e RPC a qualquer custo.
Claramente, o conceito de desenvolvimento nascente, baseado exclusivamente em indicadores econômicos, vai criar, de um lado, uma ideologia que o sustenta até os dias atuais e, do outro, graves consequências, algumas das quais discutidas no próximo artigo.
*Uma excelente leitura sobre o assunto é o livro 'Global Ecology, a new arena of political conflict', de Wolfgang Sachs, Zedbooks, 1995.
terça-feira, 28 de abril de 2009
Construção de parcerias pela educação
Um dos temas discutidos pelo grupo Vozes Jovens da Educação para o Desenvolvimento Sustentável foi o de construção de parcerias internacionais para a difusão da educação. Na verdade, o tema foi específico de um de seus sub-grupos e foi iniciado com a leitura de alguns trechos de documentos preparatórios para a Conferência Mundial de Educação para o Desenvolvimento Sustentável, realizada em Bonn, na Alemanha, em Abril de 2009.
Durante as discussões virtuais, que envolveram a mim, do Brasil, uma participante da Suíça e participantes da Nova Zelândia, Quênia, Yemen e Zimbabue, um dos aspectos que me chamou a atençã0 foi o fato da documentação oficial estimular a construção de parcerias principalmente entre o "Norte-Sul-Sul" e entre o "Sul-Sul". E as parcerias entre "Norte e Norte?", pensei eu.
Os países do norte não têm nada a aprender entre eles?
Essas questões retomam o último artigo publicado aqui no Reflexações Ambientais que discute a Sustentabilidade de Cabeça para Baixo: embora exista atualmente um reconhecimento, ainda que tímido, dos padrões de consumo do Norte (e das "porções Norte" dentro do Sul) como a principal causa de insustentabilidade do planeta, a documentação oficial sobre programas de educação para o desenvolvimento sustentável mantém o foco no Sul!!!
Para os países do Norte (e também para a porção mais ocidentalizada dos países do Sul), lidar com a insustentabilidade dos padrões de produção vai significar também lidar com algo inerente muito mais sutil e pervasivo nessas sociedades: a cultura de consumo.
Isso significa que a busca pela sustentabilidade vai ter que assumir a questão do combate à cultura de consumo e, nesse ponto, espera-se que países do Norte possam estabelecer parcerias e compartilhar informações, tecnologias e estratégias sobre como estão lidando efetivamente com o assunto. Ou isso, ou continuarão a desviar as atenções das causas da insustentabilidade para o sul, e os problemas não serão resolvidos.
A abordagem sugerida nos documentos oficiais lembra um pouco o paradigma antigo da transferência de tecnologia, informação e recursos para os países do Sul e legitima a idéia de que, fundamentalmente nas questões de educação e sustentabilidade, quem precisa aprender é o Sul.
Durante as discussões virtuais, que envolveram a mim, do Brasil, uma participante da Suíça e participantes da Nova Zelândia, Quênia, Yemen e Zimbabue, um dos aspectos que me chamou a atençã0 foi o fato da documentação oficial estimular a construção de parcerias principalmente entre o "Norte-Sul-Sul" e entre o "Sul-Sul". E as parcerias entre "Norte e Norte?", pensei eu.
Os países do norte não têm nada a aprender entre eles?
Essas questões retomam o último artigo publicado aqui no Reflexações Ambientais que discute a Sustentabilidade de Cabeça para Baixo: embora exista atualmente um reconhecimento, ainda que tímido, dos padrões de consumo do Norte (e das "porções Norte" dentro do Sul) como a principal causa de insustentabilidade do planeta, a documentação oficial sobre programas de educação para o desenvolvimento sustentável mantém o foco no Sul!!!
Para os países do Norte (e também para a porção mais ocidentalizada dos países do Sul), lidar com a insustentabilidade dos padrões de produção vai significar também lidar com algo inerente muito mais sutil e pervasivo nessas sociedades: a cultura de consumo.
Isso significa que a busca pela sustentabilidade vai ter que assumir a questão do combate à cultura de consumo e, nesse ponto, espera-se que países do Norte possam estabelecer parcerias e compartilhar informações, tecnologias e estratégias sobre como estão lidando efetivamente com o assunto. Ou isso, ou continuarão a desviar as atenções das causas da insustentabilidade para o sul, e os problemas não serão resolvidos.
A abordagem sugerida nos documentos oficiais lembra um pouco o paradigma antigo da transferência de tecnologia, informação e recursos para os países do Sul e legitima a idéia de que, fundamentalmente nas questões de educação e sustentabilidade, quem precisa aprender é o Sul.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Virando a sustentabilidade de cabeça para baixo
Um dos aspectos muito presentes nas discussões acerca de sustentabilidade ocorridas durante a Conferência Mundial da Unesco sobre Educação para o Desenvolvimento Sustentável é a questão do combate à pobreza extrema. De fato essa meta, primeira das metas do milênio, carrega consigo a idéia de que a existência da pobreza extrema é um obstáculo para a sustentabilidade. Por mais verdadeira que possa ser, considero que a questão deve ser vista de forma mais crítica do que acontece normalmente. Explico:
O foco dos debates no combate à pobreza, primeiro de tudo, mantém a percepção de que os principais entraves à sustentabilidade estão nos países do hemisfério sul, enquanto que é notoriamente sabido e reconhecido, inclusive pelos representantes dos países "do norte", que isso não é possível, já que estes últimos são, de fato, os grandes consumidores da natureza. Mesmo assim, os olhares e o foco das discussões, apesar de todos os problemas a serem enfrentados no norte, se mantém no sul: mexe-se com um lado do problema enquanto que o outro continua como está. O sul continua com a culpa. E aí a lógica é a mesma: o norte precisa transferir tecnologias e informação e etc. para o sul....
Em segundo lugar, este enfoque mantém também uma percepção de que a pobreza (do sul ou de qualquer lugar) é um fenômeno auto-criado e independente e que portanto a atuação deva se dar "lá" no sul. A pergunta que se levanta então (e que eu expus abertamente nas minhas participações no grupo das "Vozes Jovens" e nos workshops sobre consumo sustentável e formação de professores) é a seguinte: a pobreza extrema não é uma criação da riqueza extrema? Os dois não são intrínsecamente relacionados de forma que quando se cria a segunda automaticamente se cria a primeira ? Desse modo, o combate à pobreza extrema não deveria se dar por meio do combate à riqueza extrema? Não deveria ser o combate à riqueza extrema, ao invés da pobreza extrema, então, a meta do milênio? Não estaríamos nós discutindo a sustentabilidade de cabeça para baixo?
Considero essa posição importante por várias razões: a primeira delas, mais óbvia, de finalmente discutirmos as raízes da pobreza e, ao localizarmos suas origens, de fato podermos atuar para resolver o problema, e não só para atuar; a segunda delas, porque o enfoque na pobreza extrema mantém a riqueza extrema como o horizonte de sucesso para os jovens do mundo, sendo justamente o excesso de consumo o motor da insustentabilidade. Portanto, o enfoque mais aberto no combate à riqueza colaboraria para a sustentabilidade também por trazer uma nova mensagem, a de que a sua busca não deva ser perseguida. Isso tudo parece óbvio, mas mudaria por completo as motivações de vida da grande maioria dos habitantes do planeta. O que vocês acham?
O foco dos debates no combate à pobreza, primeiro de tudo, mantém a percepção de que os principais entraves à sustentabilidade estão nos países do hemisfério sul, enquanto que é notoriamente sabido e reconhecido, inclusive pelos representantes dos países "do norte", que isso não é possível, já que estes últimos são, de fato, os grandes consumidores da natureza. Mesmo assim, os olhares e o foco das discussões, apesar de todos os problemas a serem enfrentados no norte, se mantém no sul: mexe-se com um lado do problema enquanto que o outro continua como está. O sul continua com a culpa. E aí a lógica é a mesma: o norte precisa transferir tecnologias e informação e etc. para o sul....
Em segundo lugar, este enfoque mantém também uma percepção de que a pobreza (do sul ou de qualquer lugar) é um fenômeno auto-criado e independente e que portanto a atuação deva se dar "lá" no sul. A pergunta que se levanta então (e que eu expus abertamente nas minhas participações no grupo das "Vozes Jovens" e nos workshops sobre consumo sustentável e formação de professores) é a seguinte: a pobreza extrema não é uma criação da riqueza extrema? Os dois não são intrínsecamente relacionados de forma que quando se cria a segunda automaticamente se cria a primeira ? Desse modo, o combate à pobreza extrema não deveria se dar por meio do combate à riqueza extrema? Não deveria ser o combate à riqueza extrema, ao invés da pobreza extrema, então, a meta do milênio? Não estaríamos nós discutindo a sustentabilidade de cabeça para baixo?
Considero essa posição importante por várias razões: a primeira delas, mais óbvia, de finalmente discutirmos as raízes da pobreza e, ao localizarmos suas origens, de fato podermos atuar para resolver o problema, e não só para atuar; a segunda delas, porque o enfoque na pobreza extrema mantém a riqueza extrema como o horizonte de sucesso para os jovens do mundo, sendo justamente o excesso de consumo o motor da insustentabilidade. Portanto, o enfoque mais aberto no combate à riqueza colaboraria para a sustentabilidade também por trazer uma nova mensagem, a de que a sua busca não deva ser perseguida. Isso tudo parece óbvio, mas mudaria por completo as motivações de vida da grande maioria dos habitantes do planeta. O que vocês acham?
domingo, 5 de abril de 2009
O direito de ter direitos e o dever de lutar por eles
Uma atividade central na discussão das questões ambientais atuais é o desafio da idéia hegemônica de desenvolvimento.
Em aulas, constumo promover este tipo de discussão e gostaria de compartilhar com os leitores as minhas percepções sobre os resultados da última prática que desenvolvi com alunos.
Na ocasião os alunos foram divididos em grupos e solicitados para que listassem ao menos cinco características de um país desenvolvido. Ao final, os grupos adicionariam seus resultados à lousa e uma discussão aberta seria promovida.
Bem, acredito que o que foi encontrado como resultado desta atividade pode ser levado para o país como um todo, pois faz parte do senso comum que forma a subjetividade do "brasileiro".
Assim, algumas das características levantadas e que atribuem a um país a condição de desenvolvimento é que o país deve ser capaz de oferecer aos seus cidadãos segurança, educação, saúde, acesso à renda, boa infra-estrutura, etc. Além disso, emergiram também os aspectos relacionados à capacidade produtiva, à inovação de tecnologias e outras.
Ao final, foi percebido um aspecto comum relacionado a todas as questões levantadas: todas estavam relacionadas aos direitos dos cidadãos.
O que foi surpreendente no processo foi que em momento algum foi citado que um país desenvolvido é também aquele onde os cidadãos têm deveres e responsabilidades. Assim, pôde-se perceber uma espécie de passividade na idéia de desenvolvimento: as boas condições de vida e de produção serão, um dia, oferecidas para nós que, por enquanto, ficamos esperando por elas.
E qual seria nosso dever principal? Acredito que a liga entre direitos e deveres se dá por meio da capacidade de reivindicação. Ou seja, de nada vale um direito garantido no papel se não é traduzido em ação prática e isso não ocorrerá a não ser que a população julgue que reivindicar esse direito seja um dever. Será que em países "desenvolvidos" as pessoas não são mais ativas na reivindicação os seus direitos e como consequência a elas são ofertadas melhores condições de vida? Uma reflexação que deixo para aqueles que visam o desenvolvimento do país.
ps: O título deste artigo foi inspirado pelo subtítulo da Revista O III Berro: o direito de ter direitos e nossa obrigação de lutar por eles.
Em aulas, constumo promover este tipo de discussão e gostaria de compartilhar com os leitores as minhas percepções sobre os resultados da última prática que desenvolvi com alunos.
Na ocasião os alunos foram divididos em grupos e solicitados para que listassem ao menos cinco características de um país desenvolvido. Ao final, os grupos adicionariam seus resultados à lousa e uma discussão aberta seria promovida.
Bem, acredito que o que foi encontrado como resultado desta atividade pode ser levado para o país como um todo, pois faz parte do senso comum que forma a subjetividade do "brasileiro".
Assim, algumas das características levantadas e que atribuem a um país a condição de desenvolvimento é que o país deve ser capaz de oferecer aos seus cidadãos segurança, educação, saúde, acesso à renda, boa infra-estrutura, etc. Além disso, emergiram também os aspectos relacionados à capacidade produtiva, à inovação de tecnologias e outras.
Ao final, foi percebido um aspecto comum relacionado a todas as questões levantadas: todas estavam relacionadas aos direitos dos cidadãos.
O que foi surpreendente no processo foi que em momento algum foi citado que um país desenvolvido é também aquele onde os cidadãos têm deveres e responsabilidades. Assim, pôde-se perceber uma espécie de passividade na idéia de desenvolvimento: as boas condições de vida e de produção serão, um dia, oferecidas para nós que, por enquanto, ficamos esperando por elas.
E qual seria nosso dever principal? Acredito que a liga entre direitos e deveres se dá por meio da capacidade de reivindicação. Ou seja, de nada vale um direito garantido no papel se não é traduzido em ação prática e isso não ocorrerá a não ser que a população julgue que reivindicar esse direito seja um dever. Será que em países "desenvolvidos" as pessoas não são mais ativas na reivindicação os seus direitos e como consequência a elas são ofertadas melhores condições de vida? Uma reflexação que deixo para aqueles que visam o desenvolvimento do país.
ps: O título deste artigo foi inspirado pelo subtítulo da Revista O III Berro: o direito de ter direitos e nossa obrigação de lutar por eles.
terça-feira, 24 de março de 2009
Por uma nova civilização
Enquanto novidades sobre a Conferência não são postadas aqui, decidi incluir mais um arquivo que dá continuidade às minhas reflexações.
As reflexões para este espaço partem de dois princípios básicos, aparentemente separados, que serão explicados a seguir:
1) a crise que experimentamos não é uma crise ambiental mas civilizatória e;
2) Vivemos em uma realidade complexa.
1) A crise que experimentamos não é uma crise ambiental mas civilizatória:
Fala-se muito mais hoje sobre questões ambientais do que se falava há vinte anos. Para ser mais preciso, a ampla cobertura pela mídia dos conflitos, dos impactos e das consequências desses impactos ambientais começou a se dar de forma mais intensa a partir da Eco-92, realizada no Rio de Janeiro. Antes dela, dificilmente assistiríamos a um programa sobre natureza na televisão, leríamos um artigo no jornal ou vestiríamos uma camiseta com tartarugas marinhas. A Conferência, apesar de recheada de resultados duvidosos, certamente serviu para popularizar a questão ambiental, ajudada pelo desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação. De lá prá cá, então, meio ambiente passou, paulatinamente, a fazer parte das nossas vidas: mais programas na TV e destaques nas rádios, atenção pela mídia impressa, nascimento de páginas na Internet, inserção do tema em novelas, etc., e isso tudo colaborou com o aumento da massa crítica global acerca do tema. Inicia-se aí a jornada pela resolução de problemas ambientais.
Mas não é preciso um olhar muito atento para se verificar que os problemas que nos afetam hoje não são de exclusividade ambiental. A miséria, a concentração de renda, a violência e a sensação de insegurança, as doenças da modernidade (síndrome do pânico, depressão, obesidade), a insalubridade das cidades, além de outras, são sintomas de que os desafios à frente transcendem meramente a "questão ambiental" e vão mais a fundo: a crise que vivemos é civilizatória. Ou seja, os princípios sobre os quais a nossa sociedade - industrial moderna de consumo de massa - foi construída, e que movem nossas vidas, são insustentáveis e causadores das questões colocadas acima: para que sejamos bem sucedidos necessitamos explorar a natureza, as pessoas e a nós mesmos, e os resultados disso são conhecidos por todos.
2) Vivemos uma realidade complexa:
A complexidade da realidade está ligada ao fato de existirmos em um mundo formado por sistemas e subsistemas, que não pode ser retalhado e nem simplificado. Isso implica na intrínseca ligação entre os constituintes do sistema e não permite, portanto, separação.
O paradigma da separação/fragmentação é um resultado da formatação do pensamento científico moderno a partir da Revolução Científica, e apesar de ter permitido uma série de avanços tecnológicos, trouxe consigo consequências com as quais não conseguimos lidar, simplesmente por insistirmos nas soluções fragmentadas para problemas complexos. O descompromisso com o qual lidamos com o nosso corpo, com a sociedade e com a natureza só pode partir do pensamento de que o que ocorre com o outro lá (que é inclusive o meu corpo) não tem nada a ver comigo aqui.
Há uma corrente de pensamento que considera que estamos iniciando uma nova revolução científica, baseada nos princípios complexos de pensamento. Ao reconhecermos as ligações entre as coisas e suas interdependências, nossos valores fundamentais necessariamente mudarão e, portanto, nossas ações. Estaremos, aí, construindo uma nova civilização.
As reflexões para este espaço partem de dois princípios básicos, aparentemente separados, que serão explicados a seguir:
1) a crise que experimentamos não é uma crise ambiental mas civilizatória e;
2) Vivemos em uma realidade complexa.
1) A crise que experimentamos não é uma crise ambiental mas civilizatória:
Fala-se muito mais hoje sobre questões ambientais do que se falava há vinte anos. Para ser mais preciso, a ampla cobertura pela mídia dos conflitos, dos impactos e das consequências desses impactos ambientais começou a se dar de forma mais intensa a partir da Eco-92, realizada no Rio de Janeiro. Antes dela, dificilmente assistiríamos a um programa sobre natureza na televisão, leríamos um artigo no jornal ou vestiríamos uma camiseta com tartarugas marinhas. A Conferência, apesar de recheada de resultados duvidosos, certamente serviu para popularizar a questão ambiental, ajudada pelo desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação. De lá prá cá, então, meio ambiente passou, paulatinamente, a fazer parte das nossas vidas: mais programas na TV e destaques nas rádios, atenção pela mídia impressa, nascimento de páginas na Internet, inserção do tema em novelas, etc., e isso tudo colaborou com o aumento da massa crítica global acerca do tema. Inicia-se aí a jornada pela resolução de problemas ambientais.
Mas não é preciso um olhar muito atento para se verificar que os problemas que nos afetam hoje não são de exclusividade ambiental. A miséria, a concentração de renda, a violência e a sensação de insegurança, as doenças da modernidade (síndrome do pânico, depressão, obesidade), a insalubridade das cidades, além de outras, são sintomas de que os desafios à frente transcendem meramente a "questão ambiental" e vão mais a fundo: a crise que vivemos é civilizatória. Ou seja, os princípios sobre os quais a nossa sociedade - industrial moderna de consumo de massa - foi construída, e que movem nossas vidas, são insustentáveis e causadores das questões colocadas acima: para que sejamos bem sucedidos necessitamos explorar a natureza, as pessoas e a nós mesmos, e os resultados disso são conhecidos por todos.
2) Vivemos uma realidade complexa:
A complexidade da realidade está ligada ao fato de existirmos em um mundo formado por sistemas e subsistemas, que não pode ser retalhado e nem simplificado. Isso implica na intrínseca ligação entre os constituintes do sistema e não permite, portanto, separação.
O paradigma da separação/fragmentação é um resultado da formatação do pensamento científico moderno a partir da Revolução Científica, e apesar de ter permitido uma série de avanços tecnológicos, trouxe consigo consequências com as quais não conseguimos lidar, simplesmente por insistirmos nas soluções fragmentadas para problemas complexos. O descompromisso com o qual lidamos com o nosso corpo, com a sociedade e com a natureza só pode partir do pensamento de que o que ocorre com o outro lá (que é inclusive o meu corpo) não tem nada a ver comigo aqui.
Há uma corrente de pensamento que considera que estamos iniciando uma nova revolução científica, baseada nos princípios complexos de pensamento. Ao reconhecermos as ligações entre as coisas e suas interdependências, nossos valores fundamentais necessariamente mudarão e, portanto, nossas ações. Estaremos, aí, construindo uma nova civilização.
quarta-feira, 11 de março de 2009
Conferência da Unesco sobre Educação para o Desenvolvimento Sustentável
A partir de agora discutirei algumas questões relativas à Conferência da Unesco sobre Educação para o Desenvolvimento Sustentável que se dará em Bonn, na Alemanha, entre os dias 30 de março e 02 de abril deste ano. Fui selecionado para participar, com mais 24 outros jovens entre 18 e 35 anos, da oficina que antecede a Conferência, chamada de Vozes Jovens da Educação para o Desenvolvimento Sustentável.
A Conferência e a oficina têm como objetivo fazer uma avaliação da década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável que está em curso desde 2005 e propor sugestões para a sua segunda metade. Para tal os 25 participantes foram selecionados em 4 diferentes grupos para promoverem discussões virtuais sobre temas pré-definidos e, ao final, comporem um texto que trará a sua contribuição para a conferência. Até o encerramento da oficina, um texto compilando as questões dos 4 grupos será formatado, para então ser apresentado na abertura da Conferência. O grupo em que estou inserido está discutindo a construção de parcerias para a educação para o desenvolvimento sustentável. As discussões se dão virtualmente por meio de uma plataforma que foi construída especificamente para tal e postarei aqui aqueles trechos que eu julgar pertinentes sobre as minhas colocações nas discussões. Abaixo vão alguns deles que eu postei hoje:
"Eu considero que qualquer forma de parceria deve ter necessariamente como meta a construção do empodeiramento, da emancipação, da autonomia e do respeito à auto-determinação local. Nós devemos considerar que a unidade humana é na verdade multipla em suas culturas, valores e crenças e que essa percepção deve estar subjacente à qualquer forma de ação. Essa é a principal troca que pode ser alcançada nessa construção de parcerias. Como já foi colocado, há várias experiencias que podem ser compartilhadas e muito a ser aprendido, principalmente de "baixo para cima" e "entre os de baixo", e portanto o desenvolvimento da educação para o desenvolvimento sustentável deveria fortalecer o contato entre localidades".
"Eu considero que nós temos que nos perguntar quais são os valores subjacentes predominantes que nós promovemos. Estamos nós realmente lidando com os problemas na raiz ou com seus sintomas, enquanto os problemas se tornam mais e mais emaranhados e difíceis de se resolver? É importante que avaliemos as contradições dentro da própria idéia de desenvolvimento sustentável enquanto educamos as pessoas para ele, pois as contradições permitem que as velhas ideologias se transvistam e se pareçam com novas ideologias. Claramente nós não estamos vivendo em um paradigma diferente e isso pode ser facilmente percebido na diferença de agilidade de governos e agências para lidar com a crise financeira global (e a quantidade de dinheiro mobilizado) e para lidar com assuntos relativos à sustentabilidade (como as mudanças climáticas e outros). A vida na Terra é menos sustentável hoje do que ela era dez anos atrás e ainda parece que o tema sustentabilidade é percebido como algo para ser lidado quando a economia está bem. Portanto, os discursos de sustentabilidade precisam ser mais incisivos e seus princípios mais presentes e terem maior influência sobre decisões financeiras e econômicas."
A Conferência e a oficina têm como objetivo fazer uma avaliação da década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável que está em curso desde 2005 e propor sugestões para a sua segunda metade. Para tal os 25 participantes foram selecionados em 4 diferentes grupos para promoverem discussões virtuais sobre temas pré-definidos e, ao final, comporem um texto que trará a sua contribuição para a conferência. Até o encerramento da oficina, um texto compilando as questões dos 4 grupos será formatado, para então ser apresentado na abertura da Conferência. O grupo em que estou inserido está discutindo a construção de parcerias para a educação para o desenvolvimento sustentável. As discussões se dão virtualmente por meio de uma plataforma que foi construída especificamente para tal e postarei aqui aqueles trechos que eu julgar pertinentes sobre as minhas colocações nas discussões. Abaixo vão alguns deles que eu postei hoje:
"Eu considero que qualquer forma de parceria deve ter necessariamente como meta a construção do empodeiramento, da emancipação, da autonomia e do respeito à auto-determinação local. Nós devemos considerar que a unidade humana é na verdade multipla em suas culturas, valores e crenças e que essa percepção deve estar subjacente à qualquer forma de ação. Essa é a principal troca que pode ser alcançada nessa construção de parcerias. Como já foi colocado, há várias experiencias que podem ser compartilhadas e muito a ser aprendido, principalmente de "baixo para cima" e "entre os de baixo", e portanto o desenvolvimento da educação para o desenvolvimento sustentável deveria fortalecer o contato entre localidades".
"Eu considero que nós temos que nos perguntar quais são os valores subjacentes predominantes que nós promovemos. Estamos nós realmente lidando com os problemas na raiz ou com seus sintomas, enquanto os problemas se tornam mais e mais emaranhados e difíceis de se resolver? É importante que avaliemos as contradições dentro da própria idéia de desenvolvimento sustentável enquanto educamos as pessoas para ele, pois as contradições permitem que as velhas ideologias se transvistam e se pareçam com novas ideologias. Claramente nós não estamos vivendo em um paradigma diferente e isso pode ser facilmente percebido na diferença de agilidade de governos e agências para lidar com a crise financeira global (e a quantidade de dinheiro mobilizado) e para lidar com assuntos relativos à sustentabilidade (como as mudanças climáticas e outros). A vida na Terra é menos sustentável hoje do que ela era dez anos atrás e ainda parece que o tema sustentabilidade é percebido como algo para ser lidado quando a economia está bem. Portanto, os discursos de sustentabilidade precisam ser mais incisivos e seus princípios mais presentes e terem maior influência sobre decisões financeiras e econômicas."
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
O início do início
Pois é, resolvi então criar este espaço de compartilhamento.
A idéia inicial era a de que fosse algo ambiental. Então eu me perguntei: o que NÃO É ambiental? E decidi ampliar o escopo para um local de discussão sobre a realidade que vivemos hoje e suas origens históricas e filosóficas. O objetivo final, e espero conseguir envolver a todos nisso, é que deixemos de fazer parte da sociedade do "parecer" e avancemos para a sociedade do "fazer". Deixemos de ser espectadores da vida para nos tornarmos atores da vida, construtores do mundo e, claro, de um mundo melhor. Finalmente nos levantarmos dos confortáveis/aprisionadores sofás e colocarmos a mão na massa na ação de transformação das nossas vidas, da realização prática daquelas idéias lá do fundo de coisas que sempre quisemos fazer mas nunca tivemos a potência para tal. Quebremos a homeostase, o falso estado de conforto que aprisiona e gera insatisfação.
No final das contas, a vida é uma possibilidade única (até onde a gente sabe, pelo menos com o corpo atual) e devemos aproveitar essa oportunidade que tivemos de estarmos aqui para agir positivamente. Pois a não ação, ao contrário do que muitos pensam, é também uma ação, que favorece aqueles que não desejam a nossa ação.
Refletir é fundamental, sonhar é fundamental, mas como dizia Rudyiard Kiplin, não podemos fazer dos nossos sonhos os nossos mestres. Precisamos agir. Daí o nome do blog, reflexação!!!Assim, convido a todos para reflexagir!!!
A idéia inicial era a de que fosse algo ambiental. Então eu me perguntei: o que NÃO É ambiental? E decidi ampliar o escopo para um local de discussão sobre a realidade que vivemos hoje e suas origens históricas e filosóficas. O objetivo final, e espero conseguir envolver a todos nisso, é que deixemos de fazer parte da sociedade do "parecer" e avancemos para a sociedade do "fazer". Deixemos de ser espectadores da vida para nos tornarmos atores da vida, construtores do mundo e, claro, de um mundo melhor. Finalmente nos levantarmos dos confortáveis/aprisionadores sofás e colocarmos a mão na massa na ação de transformação das nossas vidas, da realização prática daquelas idéias lá do fundo de coisas que sempre quisemos fazer mas nunca tivemos a potência para tal. Quebremos a homeostase, o falso estado de conforto que aprisiona e gera insatisfação.
No final das contas, a vida é uma possibilidade única (até onde a gente sabe, pelo menos com o corpo atual) e devemos aproveitar essa oportunidade que tivemos de estarmos aqui para agir positivamente. Pois a não ação, ao contrário do que muitos pensam, é também uma ação, que favorece aqueles que não desejam a nossa ação.
Refletir é fundamental, sonhar é fundamental, mas como dizia Rudyiard Kiplin, não podemos fazer dos nossos sonhos os nossos mestres. Precisamos agir. Daí o nome do blog, reflexação!!!Assim, convido a todos para reflexagir!!!
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